Aproveitando a data em que ocorreu o golpe militar em 1964, os movimentos sociais programam um ato de defesa ao mandato da presidente Dilma Rousseff para 31 de março. A manifestação será em Brasília e reunirá a Frente Brasil Popular, que tem o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e entidades sindicais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, e a Frente Povo Sem Medo, que tem grupos mais refratários ao governo, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Intersindical - Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora, ligada ao PSOL.
A manifestação virá mais de duas semanas depois do ato programado por movimentos antiDilma, com apoio da oposição, em 13 de março. "Não estamos demorando a responder porque não é uma manifestação de resposta. Não vamos ser pautados por esse povo (pró-impeachment). Esse pessoal que está insistindo em agravar crise política está prestando um grande desserviço ao País. Um dia, a história vai mostrar isso", disse Nobre.
Ele também criticou a postura do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), de apoiar grupos como Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Revoltados Online. "O papel dele era ajudar o País a crescer. Isso prova que ele não tinha estatura para ser presidente, que o povo fez certo ao não escolher ele (nas eleições de 2014)."
Mauro afirma que a data permitirá também uma maior organização entre as dezenas de movimentos e centrais que integram as frentes. O líder do MST afirma que não há qualquer estimativa oficial da organização do ato do dia 31, mas que ele acredita ser possível reunir entre 50 mil e 100 mil manifestantes em Brasília.
Os líderes dos movimentos dizem que seguem críticos à orientação da política econômica do governo, mas que isso não significa uma autorização para depor Dilma. Eles rebatem a ideia de que a prisão do marqueteiro João Santana, na Operação Lava Jato, seja motivo para impeachment ou para uma cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Evidentemente, somos críticos ao governo Dilma, muito críticos, mas ela foi eleita legitimamente. Se a presidente for impedida por isso (caixa dois de campanha), todos os governadores, prefeitos, a maioria dos deputados teria de ser impedida. O caixa dois é parte da lógica da política brasileira e continuará sendo, enquanto não houver uma verdadeira reforma política", disse Mauro.
"Defendemos que tem de se investigar, mas todas as campanhas, não um lado só. Os mesmos caixas que financiaram o PT, financiaram o PSDB e o PMDB. Não há equidade no processo de apuração", complementou Nobre.
Críticas econômicas
Novamente, o ato dos movimentos sociais e das centrais sindicais vai às ruas com a pauta de defesa do direito da presidente Dilma governar, mas levará duras críticas à política econômica do governo. A principal crítica deve se centrar à proposta da reforma da Previdência. "Não dá para misturar as duas coisas.
Defendemos a democracia, mas somos contra a reforma da Previdência e toda essa política econômica de ajuste, que é uma fórmula de desemprego e depressão", afirmou Mauro, do MST. "Temos como eixo principal a defesa do emprego, contra a reforma da Previdência com essa proposta de idade mínima e equalização da idade de aposentadoria de homens e mulheres", disse Nobre, da CUT.
Apesar das críticas, os líderes não levantam a bandeira de "Fora, Barbosa" como fizeram em 2015 com o "Fora, Levy". Apesar de o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, defender a reforma previdenciária, ele tem um relacionamento antigo com as centrais e a base petista e a avaliação é que ainda tem crédito com essa parcela. "O Barbosa ainda precisa dar uma sinalização mais clara de qual vai ser a rota, mas temos de dar tempo pra ele, ele acabou de assumir", disse Nobre. Nelson Barbosa assumiu a Fazenda em 21 de dezembro.