Um Brasil mergulhado em uma profunda crise, com desemprego, recessão, pessoas ficando mais pobres e os preços subindo, tudo isso por culpa de uma gestão desastrosa, também permeada pela corrupção. O cenário assustador não foi apontado pela oposição, mas pelo principal partido que dá – ou deveria dar – sustentação ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT), o PMDB, em uma propaganda de 10 minutos que vai ao ar hoje à noite. Em meio a duras críticas à condução dos rumos do país pelo Palácio do Planalto, a legenda do vice-presidente Michel Temer se apresenta como solução para devolver as expectativas de melhora aos brasileiros.
A propaganda partidária é apresentada em tom sombrio, com um fundo preto em que nem mesmo a logomarca do PMDB quebra o ar de luto com as cores tradicionais. A música completa o clima de suspense enquanto os vários parlamentares vão listando as mazelas do governo Dilma – como se não fizessem parte dele. De acordo com o partido, o país entra 2016 com sensação de impotência, pois a economia desanda e o desemprego cresce, estando de mãos dadas com a carestia. “A verdade é que o brasileiro empobreceu, entristeceu, e o país precisa reagir já”, afirma a apresentadora.
Temer diz no programa considerar naturais os sentimentos de desconfiança, abatimento e pessimismo do brasileiro. “Estamos vivendo dias muito difíceis, principalmente em função dos nossos próprios erros”, afirma o vice de Dilma. Na sequência, ele afirma que é possível transformar os erros em virtude ao encará-los com bom senso.
O vice, que há pouco tempo demonstrou publicamente o descontentamento por ser, em sua visão, tratado como “figura decorativa” por Dilma, no programa do partido que preside é alçado a protagonista. Os líderes e deputados dizem que o partido vai apresentar o Plano Temer 2, que irá “propor como manter e ampliar os ganhos sociais”. Eles lembram que já foi apresentado um Plano Temer 1, que seria o documento “Uma ponte para o futuro”, no qual o PMDB dá sugestões para a política econômica.
Ficou para a tropa de choque a missão de dar as “pancadas” mais fortes na gestão petista. O deputado federal Osmar Serraglio fez referência às investigações que pesam contra o governo Dilma, dizendo que “não dá para aceitar tantos desvios de conduta com tanta gente fazendo coisa errada”. O colega de bancada Marcos Rotta completou: “É inadmissível que a maior e mais importante empresa brasileira esteja no fundo do poço, jorrando incompetência”. Entre outras críticas, o partido coloca a má gestão como causadora da crise e diz que a honra do brasileiro está ferida. Segundo o PMDB, o pior disso é o fato de o governo não apontar soluções.
O principal adversário da presidente Dilma dentro do PMDB, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também falou, mas em vez das críticas habituais, foi mais evasivo. “Vivemos o estado de direito. Vivemos o que garante a todos, sem exceção, o que a lei diz. E é numa crise como esta que vivemos que esses direitos devem mais do que nunca serem preservados”, afirmou.
O líder do governo na Câmara, Leonardo Picciani, diz que é natural ao maior partido propor diálogo e encaminhar mudanças. Outros parlamentares completam, dizendo que é plenamente possível reunir o país e que o PMDB já esteve à frente de movimentos nesse sentido. A bola é devolvida a Temer, que fecha o programa dizendo: “O Brasil precisa de pacificação e consenso, e é para já”.
Derrotas Desde o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o PMDB vem dando dores de cabeça à petista, principalmente com a atuação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que arquitetou derrotas contra ela na Casa. O rompimento ficou ainda mais claro quando ele aceitou a tramitação do pedido de impeachment contra a petista. Depois coube ao próprio Temer desfiar o rosário de queixas em uma carta que acabou vazando para a imprensa para depois dizer que não havia nenhum rompimento com o governo.
Temer vem percorrendo o país em eventos internos do PMDB recheados de críticas ao governo Dilma. A motivação oficial é fazer campanha, embora seja candidato único, para permanecer no comando do PMDB. Nos encontros, integrantes do partido o colocam como solução para a crise brasileira e falam em candidatura do PMDB em 2018. Em Belo Horizonte, peemedebistas chegaram a defender que o partido engrosse o coro das manifestações e atue pelo afastamento da presidente Dilma, o que levaria Temer a assumir o restante do mandato sem necessidade de aprovação popular.
Pesquisa CNT
Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgada ontem mostra que a avaliação positiva do governo Dilma Rousseff subiu de 8,8% para 11,4%, enquanto a avaliação negativa do governo da petista caiu de 70%, em outubro de 2015, para 62,4% agora. O desempenho pessoal de Dilma também melhorou e subiu de 15,9% para 21,8%. Já a reprovação caiu de 80,7% para 73,9%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. A pesquisa também tratou das intenções de voto para presidente da República, se as eleições fossem hoje. O senador Aécio Neves (PSDB) aparece em primeiro, com 10,7%. O tucano, em outubro, liderava com 13,7%. Lula aparece em segundo, com 8,3%, contra 7,9% que detinha em outubro. Marina Silva (Rede) aparece em terceiro lugar com 3,9%. Ela detinha 4,7% em outubro.