Além de condenar os contratos da CPEM com prefeituras petistas, a comissão pediu que a executiva nacional do PT aceitasse a denúncia contra o ontem como hoje advogado de Lula. A executiva aceitou, mas, logo depois, em outra insólita votação, voltou atrás e livrou o advogado de uma segunda investigação. Venceslau, o denunciante, foi expulso do partido.
"No PT, lamentavelmente, as denúncias de violações éticas são apuradas ou não de acordo com critérios valorativos e subjetivos dos nossos dirigentes em relação à sua farejada plausibilidade inicial", escreveu Cardozo na época.
"Não existe institucionalizado na nossa cultura política o dever objetivo de investigar com autonomia e independência qualquer denúncia." Com o grifo em itálico no original, o texto com essa análise foi publicado na revista Teoria & Debate, em setembro de 1997.
Lá se vão quase 19 anos. Cardozo tinha, então, 38. Era vereador pelo PT de São Paulo, professor de Direito da PUC e ex-secretário de governo petista da prefeita Luiza Erundina. Foi dos três escolhidos, pela executiva nacional, para integrar Comissão Especial de Investigação para apurar as denúncias do economista.
A comissão trabalhou durante dois meses, ouviu 35 pessoas - inclusive Lula e Roberto Teixeira - e apresentou um relatório final. No artigo citado, onde faz um circunstanciado balanço do trabalho dessa comissão, Cardozo escreveu: "Se em outros partidos comportamentos desta natureza (o de Roberto Teixeira) podem ser aceitos sem maiores questionamentos ou reprimendas, no PT isso não nos parece possível. Submetemos então à Executiva Nacional a proposta de que fosse aberto processo ético-disciplinar contra o militante Roberto Teixeira, por suspeita de grave violação ética. A proposta foi aceita pela Executiva Nacional". Depois, numa reviravolta singular, a executiva nacional mudou de posição.
Lula nunca perdoou Cardozo e os outros integrantes da comissão por essa posição contra o advogado. Jamais o guindaria a ministro, nem que tivesse dez mandatos. E não gostou, como continua não gostando, que a presidente Dilma o tenha feito, além do mais integrando Cardozo no chamado "núcleo duro" do poder. A comissão de ética que o hoje ministro integrou nunca mudou de posição a respeito do caso CPEM.
'Ataque'
Recentemente, em uma das notas em que protestou contra a Operação Lava Jato, o advogado de Lula pediu "urgente posicionamento" do ministro da Justiça contra o que entende ser "um ataque aos advogados e às suas prerrogativas" por parte da Polícia Federal. "O ministro da Justiça não pode se calar diante de tais fatos", escreveu Teixeira. Procurado pela reportagem, o ministro não se pronunciou a respeito do caso.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..