Brasília - A delação premiada de 11 executivos da segunda maior empreiteira do país, a Andrade Gutierrez, ameaça arrastar a campanha eleitoral de 2010 da presidente Dilma Rousseff para o olho do furacão da Operação Lava-Jato. Investigadores teriam localizado uma linha a ser esmiuçada para descobrir o pagamento ilícito por meio de contrato fictício de prestação de serviço em pleno período eleitoral. Sob a mira da investigação está a agência de comunicação Pepper, que trabalhou para campanha da presidente Dilma em 2010, prestando serviço relacionado à comunicação. Informações reveladas pelo jornal Folha de S.Paulo afirmam que, para dar aspecto de regularidade ao pagamento da contabilidade, a Andrade produziu um contrato fictício de mais de R$ 5 milhões com a agência Pepper.
Segundo informações da delação premiada, a empresa teria simulado um contrato com uma empresa de comunicação para repassar R$ 6 milhões à campanha presidencial. Entre os executivos da empresa que prestam depoimento pelo acordo de colaboração estão Otávio Azevedo, ex-presidente do grupo, e Flávio Barra, ex-presidente da construtora, ambos alvos da Operação Lava-Jato. As delações ainda precisam ser homologadas pela Justiça.
Em 2010, a campanha de Dilma declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter feito 16 pagamentos que somam R$ 6,5 milhões entre janeiro e dezembro em serviços prestados pela Pepper. Também na prestação de contas, o comitê financeiro informou, à época, ter recebido três doações da Andrade Gutierrez, entre agosto e outubro, que somaram R$ 5,1 milhões. A triangulação de repasse de valores é considerada por ministros do TSE uma manobra para se fazer caixa dois.
As informações levantadas pelos executivos dizem respeito à campanha cujo mandato já está encerrado.
DEFESA Oficialmente, o Palácio do Planalto não comenta o caso, que ainda está em investigação. Interlocutores palacianos afirmam, porém, que a estratégia será desassociar o caso das quatro ações que tramitam no TSE em relação a campanha de 2014. Apesar de demonstrar segurança, a Presidência teme que realmente haja irregularidades. A alegação é de que a campanha eleitoral de 2014 foi feita com todo cuidado e checagem redobrada de informações para não apresentar nenhum erro. Mas não se sabe se houve o mesmo cuidado na campanha de 2010, coordenada pelo PT. Outras delações já se aproximaram da campanha da presidente. O lobista e delator Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB, disse que o ex-ministro petista Antonio Palocci recebeu R$ 2 milhões para repassar à campanha de 2010. O dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, que também firmou acordo para delação premiada, falou que repassou R$ 7,5 milhões para a campanha.
Em resposta às irregularidades, o tesoureiro da campanha presidencial de 2010, José de Filippi Júnior, alegou que os serviços prestados pela Pepper foram regularmente contabilizados nas prestações de contas aprovadas pelo TSE. “Os valores pagos a esta empresa foram da ordem de R$ 6,4 milhões”. “O vazamento truncado e seletivo de informações atribuídas à delações premiadas submetidas a sigilo legal, independentemente de quem pratica, é ato ilícito e exige apuração imediata por parte das autoridades responsáveis”, concluiu. A agência Pepper afirmou que não comentaria a investigação em andamento. O PT também não quis comentar as suspeitas de irregularidades na campanha..