O senador Delcído do Amaral (PT-MS), de 61 anos, que fez Brasília tremer ontem com sua delação premiada, conhece bem os bastidores dos negócios de energia e do petróleo, há muitos anos. Formado em engenharia elétrica, iniciou sua vida profissional na construção e montagem da Usina de Tucuruí, no Pará, e depois partiu para viver dois anos na Europa, onde foi trabalhar na petrolífera Shell. Com base na experiência adquirida, em 1991, assumiu o cargo de diretor da Eletrosul, no Brasil, responsável pelo planejamento energético da Região Sul. O conhecimento da área terminou por lhe render, em março de 1994, outra indicação, desta vez, na secretaria executiva do Ministério de Minas e Energia e, em seguida, no governo Itamar Franco, passou a chefiar a pasta até 1995. Foram essas credenciais que tornaram natural a indicação de Delcídio como diretor de Gás e Energia da Petrobras, em 2000 e 2001, já no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.
A aproximação de Delcídio com o PT só ocorreu a partir de 2001, quando se tornou secretário de Infraestrutura do então governador do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT. Isso lhe rendeu um apoio para sua primeira eleição ao Senado, em 2002, já como um quadro petista. Mas Delcídio ganhou projeção nacional apenas ao assumir o cargo de presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) dos Correios, que resultou na revelação do escândalo do mensalão. Surfando nesta projeção, ele disputou eleição ao governo de seu estado, Mato Grosso do Sul, mas foi derrotado. E tentou novamente em 2014, também sem sucesso.
Em abril de 2015, Delcídio foi escolhido pela presidente Dilma Rousseff como líder do governo no Senado, até ser preso oito meses depois, sob a acusação de tentar interferir nas investigações da Lava-Jato. De acordo com o inquérito, o senador petista tentou impedir a delação premiada de seu ex-colega de trabalho Nestor Cerveró, numa tentativa de evitar que ele revelasse sua participação a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Ele ofereceu um plano de fuga para Cerveró, mas teve usa proposta gravada pelo filho do executivo da estatal.
Delcídio enfrenta hoje um processo de cassação na Comissão de Ética do Senado. Ele deixou a cela da PF no dia 19 e prometeu reassumir sua cadeira no dia 22. Mudou de ideia, alegando que precisava ter melhor conhecimento das condições de seu habeas corpus e cuidar de sua defesa no conselho. O senador, que prestou sua declaração duas semanas antes de ser libertado, pediu que seu depoimento não fosse vazado antes de seu julgamento no Senado. O objetivo seria pressionar os colegas para evitar a cassação.