Na manhã desta quinta-feira, 3, Renan conversou com o senador Telmário Motta (PDT-PR), escolhido relator do caso Delcídio no Conselho de Ética. Afirmou que o caso envolvendo o processo de quebra de decoro parlamentar de Delcídio é muito diferente daquele protagonizado por Demóstenes Torres (sem partido-GO), que acabou cassado. "Demóstenes era um senador antipatizado", disse Renan a Telmário.
Tanto Renan como Delcídio negam qualquer acordo. O senador petista desmente até mesmo que tenha feito delação premiada, mas, de acordo com informações obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, ele passou quadro dias depondo ao Ministério Público. No depoimento, ele atirou na direção da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de parte do PMDB.
Avisados de que o teor da delação era explosivo, senadores do PMDB citados por Delcídio se rebelaram.
Depois desse alerta, Delcídio tentou recuar, uma vez que a colaboração não havia sido homologada. "Todo mundo que me conhece sabe que eu nunca chantageei nem ameacei ninguém e não vou mudar depois de velho", afirmou ele, no dia 22 ao Estado. "Eu posso ser tudo, menos chantagista."
O problema é que o depoimento de Delcídio foi vazado para a revista IstoÉ, provocando uma reviravolta no caso. Em conversas reservadas, dirigentes do PT avaliaram nesta quinta que o vazamento partiu do Ministério Público, para criar um fato consumado contra Lula, o partido e o governo.
"Está claro que o senador Delcídio queria que seus colegas o salvassem no Conselho de Ética sem saber o que ele estava dizendo", afirmou o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que nesta quinta assumiu a Advocacia-Geral da União (AGU). "Ele queria ludibriar a todos para não ser cassado e, ao mesmo tempo, se vingar dos que não o salvaram".
Cardozo disse que Delcídio mandou emissários procurá-lo em janeiro sob a alegação de que, se o governo não agisse para sua soltura, envolveria a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o próprio ministro num escândalo sem precedentes. "Nós nada fizemos nem poderíamos fazer", afirmou Cardozo. "Ainda hoje, quando foi informada sobre o teor das afirmações de Delcídio, a presidente disse: 'Nada disso para de pé'".
Pressão
Telmário declarou nesta quinta ao presidente do Senado que discordava da afirmação feita por ele, na semana passada, de que o Conselho de Ética só deveria julgar Delcídio após uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a denúncia contra o petista.
"O Conselho de Ética não tem como inverter o processo e fazer um julgamento político sem saber o que acontece no processo judicial. É preciso conectar as coisas", argumentou Renan, na ocasião.
Apesar da defesa de Renan, Telmário deu sinais de que seu parecer será pelo recebimento da representação da Rede e do PPS, que pedem a perda de mandato de Delcídio. Para Telmário, a delação premiada deve acelerar o processo de cassação do ex-líder do governo. "Imagina, o cara se autoconfessa réu", observou ele. Questionado se pode haver pressão para salvar Delcídio, Telmário foi contundente: "Não aceito esse tipo de pressão. Não há nada no mundo que me faça aceitar".
Viagem
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se ausentou nesta quinta do Congresso Nacional. Apesar de constar na sua agenda, uma sessão plenária marcada para às 16h, ele não compareceu.
Durante toda a semana, o presidente do Senado evitou comentar eventos políticos alheios à Casa. Primeiro, pediu para não falar sobre a saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça. Na noite de quarta-feira, 2, esquivou-se de comentar o julgamento do Supremo Tribunal Federal em que maioria dos ministros já havia votado para tornar réu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Me inclua fora dessa, não me ponha nessa confusão.".