Brasília e São Paulo - A presidente Dilma Rousseff e seu padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva combinaram uma estratégia para tentar salvar o governo da pior crise política. Os dois almoçaram juntos ontem, em São Bernardo do Campo, enquanto simpatizantes faziam um ato de apoio ao petista diante do prédio onde ele mora.
A conversa entre os dois ocorreu no dia seguinte à ação da Polícia Federal que conduziu Lula coercitivamente para prestar depoimento. O ex-presidente é o principal alvo da Operação Aletheia, 24.ª fase da Lava Jato.
"Lula vai retomar a postura original dele", disse ao Estado o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, em referência ao discurso mais incisivo do ex-presidente contra as elites, marca registrada das suas campanhas. "O problema é que as pessoas, mesmo as nossas, não veem que existem papéis diferentes. Ela é o governo, não um sindicalista que pode falar o que quer. Acho muito importante respeitar as instituições. Agora, tanto o PT como ela têm muito juízo. Não haverá racha."
Ao receber uma ligação de Dilma, na sexta-feira, após prestar depoimento à PF, Lula deu a senha da estratégia a seguir. "Não podemos cair na armadilha de nos dividir, Dilma", afirmou. "Não dá mais. Se alguém imagina que vou ficar em casa, esquece. Vou para a rua e vou ser candidato a presidente, em 2018."
As declarações de Lula foram confirmadas ao Estado por duas pessoas que estavam ao lado dele durante o telefonema de Dilma. No Planalto, a avaliação é que o cerco a Lula na Operação Lava Jato, a delação do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS) e a prisão do marqueteiro João Santana dão força às manifestações contra o governo, marcadas para o dia 13.
O aumento dos protestos preocupa o Planalto porque a temperatura das ruas é decisiva para o impeachment ganhar força no Congresso, embora o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tenha se tornado réu em processo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O monitoramento das redes sociais feito pelo governo indica que a insatisfação popular cresceu muito. Há inconformismo com a corrupção na Petrobrás e com a falta de emprego, a disparada da inflação e a perda do poder aquisitivo.
"O Brasil não pode continuar nesse impasse, com o quadro econômico se agravando dia após dia", disse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). "É preciso acelerar as discussões (sobre impeachment), inclusive no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral", completou, em referência à Corte na qual tramitam ações do PSDB que pedem a cassação de Dilma e do vice Michel Temer.
Gestos
Com medo de perder o mandato, Dilma começou a fazer gestos na direção do PSDB e de alas dissidentes do PMDB. Apoiou, por exemplo, a proposta que prevê a perda da exclusividade da Petrobrás na exploração da camada do pré-sal, do senador tucano José Serra (SP), mesmo se indispondo com o PT.
Irritada com as críticas do PT ao ajuste fiscal e à reforma da Previdência, a presidente faltou à festa de 36 anos do partido, no dia 27. A ausência foi um gesto calculado para manter distância regulamentar do PT num momento em que o partido é alvejado pela Lava Jato e Dilma precisa angariar apoio fora do tradicional arco de alianças do governo. Na sexta-feira, o aliado PSB anunciou que vai se juntar à oposição.
Os desdobramentos da condução coercitiva de Lula pela PF, porém, empurraram Dilma para uma encruzilhada. As manifestações em defesa do ex-presidente mostraram que ela também precisa do PT para evitar o impeachment. Além disso, pesquisas em poder do Planalto indicam que a maioria da população não dissocia Lula de Dilma. Há uma simbiose entre os dois e o fracasso de um é colado no outro.
Em conversa a portas fechadas com deputados, senadores e dirigentes do partido, na sexta-feira, Lula pediu compreensão com a presidente. "A gente precisa defender a Dilma, mesmo discordando dela. Não querem que ela termine o mandato. Querem inviabilizar o PT para 2018 e não podemos deixar isso acontecer."