A tensão que ganhou as ruas após a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegará nesta semana ao Congresso Nacional e pode atrapalhar os planos do Palácio do Planalto de aprovar medidas para combater a crise econômica. Os partidos de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) – PSDB, DEM, PPS, PSB e PTB – anunciaram que vão entrar em obstrução a partir desta segunda-feira até que seja instalada a comissão que vai analisar o pedido de impeachment. A oposição espera contar com parlamentares da base aliada do governo que se mostram insatisfeitos com a presidente Dilma para impedir as votações.
Em ano atípico na agenda nacional, uma vez que no fim do primeiro semestre as atenções se voltam para as eleições municipais e em agosto acontecem os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o governo terá que correr contra o tempo para aprovar as medidas de ajuste econômico. Os recentes episódios da Operação Lava-Jato se tornaram um obstáculo a mais na agenda proposta pelo governo federal.
Na lista de projetos considerados pelo Planalto como essenciais para mudar o cenário de recessão em que o país se encontra estão as reformas da Previdência e Fiscal, o projeto de desvinculação de receitas da União, a DRU, e a aprovação da CPMF, novo imposto que é criticado até por aliados do Planalto. O ministério da Fazenda conta também com uma negociação para alongar as dívidas dos estados com a União por mais 20 anos e a proposta deve ser enviada ao Congresso.
Até mesmo dentro do PT a presidente já tem que lidar com críticas duras às medidas de ajuste fiscal. Nas últimas semanas, as propostas de reforma da Previdência foram contestadas por sindicalistas próximos ao PT e nas comemorações de 36 anos da legenda os principais líderes cobraram uma postura diferente do governo para encarar a crise econômica.
Senadores e deputados da oposição desafiaram o Planalto ao afirmar que o abatimento com a delação do senador Delcídio do Amaral, ex-líder de governo no Senado, e a condução de Lula para prestar depoimento à Polícia Federal enfraqueceu ainda mais a capacidade do governo em aglutinar apoio junto aos aliados. Os parlamentares que fazem parte da base aliada e que estão insatisfeitos com o governo podem aderir aos oposicionistas e paralisar de vez os trabalhos no Congresso.
“Vamos ter força para obstruir a pauta porque o clima de incertezas e insatisfações contaminou a base de apoio da presidente Dilma. Os partidos não tem mais confiança na viabilidade e capacidade desse governo em aprovar as medidas necessárias”, avalia o deputado Rodrigo de Castro (PSDB).
Embates
Integrantes da base aliada ao Planalto também se preparam para uma semana de fortes embates no Câmara e no Senado. No entanto, a avaliação de alguns deputados petistas é que a operação da PF na casa do ex-presidente Lula e em seu instituto servirá como motivação para a defesa do governo, o que poderá se reverter em apoio para aprovação das medidas apontadas pela equipe econômica para frear a crise econômica.
“A postura de obstrução da oposição na tentativa de atrasar o país e evitar a aprovação de medidas importantes para contornarmos os problemas econômicos está sendo a mesma desde o fim das eleições de 2014. Não muda em nada a partir de agora”, avalia o deputado Reginaldo Lopes (PT). O parlamentar afirma que a semana será de mobilização dos partidos aliados para denunciar a “tentativa de golpe” e um processo de “investigação seletiva que vem sendo adotado pelo juiz federal Sérgio Moro (responsável pelas investigações da Operação Lava-Jato)”. “Será uma semana de muito enfrentamento político. Vamos discutir e atacar essa tentativa absurda de se criminalizar um partido político”, diz Lopes. O parlamentar aposta que outras legendas não vão embarcar nas “atitudes oportunistas dos parlamentares da oposição”.
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