Enquanto Dilma ainda viajava, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, esteve pela manhã no Palácio do Planalto e, segundo fontes, alertou aos ministros petistas Jaques Wagner e Ricardo Berzoini sobre o risco que o partido corre caso episódios de violência sejam registrados no domingo.
A avaliação de petistas é de que a ação do juiz Sérgio Moro de decretar a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou o padrinho político de Dilma a insuflar a militância, que já tem feito convocações para contrapor as manifestações pró-impeachment marcadas para domingo. A partir daí surgiu o temor de que confrontos, até mesmo fatais, possam ampliar a crise política, já que na última sexta-feira, 4, o depoimento obrigatório de Lula gerou graves enfrentamentos.
Nesta linha, há quem defenda que também é preciso "responsabilidade" da oposição para acalmar os ânimos, pois não interessa a nenhum dos lados ter sua imagem atrelada a violência, "que se sabe como começa, mas não se sabe onde termina".
Apesar de ser tratada por interlocutores como uma reunião de coordenação política convocada de última hora por Dilma, o encontro, que durou grande parte da tarde e início da noite, foi "enxuta", apenas com a participação dos ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria Geral) e o assessor especial da presidente, Giles Azevedo. Em viagem ao Rio, o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, se integrou ao encontro depois.
União
Nesta segunda, em cerimônia de entrega de casas do Programa Minha Casa, Minha Vida, em Caxias do Sul, a presidente disse que o governo tem de querer a unidade dos brasileiros. "Ele governa para todos, não parte ou pedaço da população. O governo sempre quer a unidade do País. A oposição tem absoluto direito de divergir, mas não pode sistematicamente ficar dividindo o País", afirmou.
A presidente reconheceu que o Brasil passa por um momento de dificuldades econômicas, mas disse que parte delas se deve à sistemática crise política, provocada "por aqueles inconformados que perderam as eleições" e que querem antecipar a eleição presidencial de 2018. "Tem certo tipo de luta política que cria um problema sistemático, não só para a política em si, mas para a economia, a criação de emprego, o crescimento das empresas.
Dilma usou seu discurso para reforçar sua "indignação" com a operação a Polícia Federal. Num discurso rápido, ela disse que não tem o menor sentido ter conduzido seu padrinho político 'sob vara' para prestar o depoimento. E, utilizando os mesmos argumentos que o ex-presidente usou na sexta-feira, em pronunciamento feito na sede nacional do PT, horas depois de prestar o depoimento, Dilma salientou que Lula "jamais se recusou a depor". E frisou: "Justiça seja feita, Lula nunca se julgou melhor do que ninguém."
Pauta-bomba
Outra preocupação que fez parte da reunião de Dilma no dia foi em relação à Proposta de Emenda à Constituição 1/2015, a chamada PEC da Saúde, que aumenta de 15% para 19,4% da Receita Corrente Líquida (RCL) o porcentual mínimo que a União é obrigada a investir em saúde. O governo é contra a matéria, pois argumenta que a "pauta-bomba" traz impacto de R$ 15 bilhões no próximo ano e R$ 207,1 bilhões até 2022, quando o porcentual máximo é atingido.
Segundo interlocutores do governo, a avaliação é que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem usado o cargo para fazer o enfrentamento e ao mesmo tempo tentar se proteger. "O governo tem que dar um jeito, buscar uma alternativa para a PEC da Saúde", disse uma fonte, reconhecendo que o governo ainda não tem "essa solução"..