A declaração do advogado foi dada ao explicar e-mail em apuração na Operação Zelotes, no qual ele trata com outros investigados de acertos a serem feitos com "parlamentares".
Para o Ministério Público Federal, autor de denúncia contra Silva, os pagamentos mencionados são propina negociada com congressistas que participaram do processo de aprovação das medidas provisórias, que prorrogaram incentivos fiscais para o setor automotivo.
Silva disse que obteve de Janene - que era líder do PP e chegou a ser réu no escândalo do mensalão - a indicação para atuar numa ação de improbidade administrativa contra Pizzolati, em curso no Superior Tribunal de Justiça, por volta de 2009. O resultado do caso poderia, eventualmente, impedi-lo de participar de eleições, com base na Lei da Ficha Limpa.
"Esses 'parlamentares' não têm nada a ver com a tramitação do que quer seja no Congresso Nacional", assegurou.
O réu alegou que, em alguma ocasiões, havia uma cobrança mais "incisiva" por parte de Janene. O desfecho do processo foi favorável à Pizzolati e os honorários foram pagos por meio de empresas que o advogado não especificou. Ele adiantou, contudo, que apresentará as notas dos pagamentos. O valor repassado a Janene seria correspondente a R$ 140 mil.
No e-mail, o advogado se refere a acerto com "parlamentares", embora alegue ter negociado a comissão apenas com Janene. O advogado do réu, Getúlio Humberto Barbosa de Sá, explicou que o deputado morto dizia que os 20% seriam para mais de uma pessoa, as quais não identificou.
Silva também disse que, por ter sido indicado para um caso do Banco Opportunity, pagou, em reais, o equivalente a US$ 10 mil ao ex-chefe do setor de Comunicação do Senado Fernando César Mesquita, também réu na Zelotes.
O depoimento, de quatro horas, foi prestado para instruir a ação penal que trata da suposta "compra" e medidas provisórias. O advogado é acusado de corrupção ativa, organização criminosa, extorsão e lavagem de dinheiro.
O advogado confirmou ter se associado ao lobista Mauro Marcondes Machado, também réu na Zelotes, para atuar pela prorrogação dos incentivos fiscais a montadoras.
Segundo ele, não houve, de sua parte, encontro com autoridades públicas para tratar das MPs ou de caso relacionado ao Conselho Administrativo e Recursos Fiscais (Carf), espécie de tribunal administrativo que avalia recursos e contribuintes contra débitos aplicados pela Receita Federal.
O advogado disse que, pela atuação em favor das medidas e por ter trabalhado em ação no Carf em favor do uma das montadoras, a MMC Automotores (que fabrica veículos Mitsubishi), sua empresa recebeu R$ 4,7 milhões da empresa de Marcondes, a Marcondes e Mautoni Empreendimentos. Ele negou ter repassado parte do dinheiro a terceiros ou ter obtido algo "por fora".
Silva respondeu a perguntas do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília, e de advogados de defesa dos réus. Mas ficou em silêncio quando questionado pelo procurador da República Frederico Paiva. Entre outras questões, o réu não informou o porquê de tantos saques em espécie nas contas ligadas à sua empresa, a SGR Consultoria, e quais foram os destinos desses recursos.
O representante do Ministério Público pediu que o fato de o advogado não "colaborar" respondendo às perguntas fosse levado em consideração na dosimetria de eventual pena. O advogado do réu justificou que o interrogatório é um instrumento de defesa do seu cliente e que, por isso, ele optou pelo silêncio ao ser indagado pelo procurador.
O procurador, ao fim da audiência, classificou de "escárnio" as explicações dadas pelo advogado. "Em quatro horas ele não soube esclarecer o que foi esse 'assessoramento', ele enrolou", criticou. Sobre a comissão a Janene, ele declarou:"É típico das defesas citar parlamentar falecido"..