A presidente Dilma Rousseff usou uma cerimônia de assinatura de uma portaria interministerial que autoriza cirurgias reparadoras às mulheres vítimas de violência para fazer um apelo pela "compreensão, diálogo e unidade" do País. Dilma disse que seu governo tem "absoluta disposição" para "lutar todos os dias" para tornar a tolerância "um dos pilares da nossa sociedade e da nossa cultura".
"No momento em que nós vivemos, mais uma vez, é necessário que a gente repita a importância da tolerância", afirmou Dilma. "A tolerância e a pacificação da sociedade é algo muito importante."
Sem citar especificamente o temor do governo com o acirramento da violência nas manifestações marcadas para o próximo domingo, Dilma afirmou ainda que o País precisa manter sua reputação de ser um país tolerante, "um país que não foi afeito nem a guerra, nem a conflitos armados".
A avaliação de petistas é de que a ação do juiz Sérgio Moro de decretar a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou o padrinho político de Dilma a insuflar a militância, que já tem feito convocações para contrapor as manifestações pró-impeachment marcadas para domingo, 13. A partir daí surgiu o temor de que confrontos, até mesmo fatais, possam ampliar a crise política, já que na última sexta-feira o depoimento obrigatório de Lula gerou graves enfrentamentos.
Dilma disse ainda que "ter um quadro de paz é fundamental principalmente para os governos". "Os governos precisam de paz para que possamos ter condições de enfrentar a crise e retomar o crescimento", afirmou.
A presidente também não citou o processo de impeachment, que está em tramitação na Câmara dos Deputados, e disse que "até o final do meu governo em 2018" continuará estabelecendo políticas e viabilizando as medidas para que acabar com "o pesadelo da violência que se abate sobre as mulheres".
Economia
A presidente disse ainda que atualmente "fica claro" que um dos componentes que atrasam a retomada do crescimento é a sistemática crise política "que o Brasil, de forma episódica, vem sendo submetido". "Episódica porque ela vai e vem, porque se acentua e depois recua", afirmou.
Dilma disse que já há sinais de que a economia pode se recuperar e destacou a redução da inflação. "Temos hoje um quadro e perspectiva de ter uma inflação menor", afirmou. A presidente disse ainda que o câmbio atualmente favorece as exportações, mas destacou que é preciso "recuperar nosso mercado interno".
Última hora
A agenda da presidente Dilma foi alterada para que ela pudesse ter alguma ação considerada positiva no Dia Internacional das Mulheres. O evento de assinatura da portaria interministerial que regulamentou a lei 13.239/2015 aconteceria inicialmente no Ministério da Saúde e foi transferido para o Planalto.
Dilma optou por não fazer pronunciamento em rede nacional de rádio e TV devido aos panelaços após pronunciamentos do governo ou do PT. No ano passado, Dilma usou o pronunciamento em rede nacional pela data para fazer uma longa defesa ao ajuste fiscal e pedir "paciência" e "compreensão" dos brasileiros porque, segundo ela, a atual situação era "passageira".
Na cerimônia, assim como fez mais cedo no Twitter, a presidente destacou políticas de governo para as mulheres e disse que um dos mais fortes preconceitos que recai sobre as mulheres é a violência e que é "prioridade do governo a luta contra toda forma de preconceito". "Nós para de fato combatermos e não deixar isso apenas no discurso, expandimos de forma efetiva a rede de proteção da mulher", destacou.
Ao listar mais ações do governo para o combate de proteção a mulher, Dilma disse que o Ligue 180, rede de atendimento a mulheres vítimas de violência, tem se expandido. Em relação a portaria assinada, que prevê a cirurgia para reparação, Dilma disse que "nada mais justo que a mulher tenha sua condição de integral reparada e de forma que seu corpo não fique marcado e nem deformado por violência completamente injustificada".