Na audiência, o lobista do setor automotivo confirmou ter feito gestões junto a autoridades públicas para aprovar as medidas provisórias. Mas explicou que esse trabalho se limitou à explicação de vantagens, no aspecto técnico, da prorrogação dos incentivos. Ele disse que, no lobby pelas MPs, entregou ao ex-ministro Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um estudo e dois pareceres de juristas.
"Tenho 56 anos de atividade pública. Nunca precisei corromper ninguém. Nunca cometi um ato ilícito. Nunca um colaborador meu cometeu", sustentou.
O lobista, que está preso desde outubro, relatou ter trabalhado pela aprovação das MPs 471, de 2009, e 627, de 2013.
Credibilidade
No caso da 627, ele disse ter contratado, para estudos, os serviços do economista Bernard Appy, que integrou a equipe do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci na primeira gestão Lula (2003-2006), ligado ao partido do governo. "Fiz questão de que fosse do PT, porque tinha mais credibilidade".
O lobista foi questionado sobre porque, numa planilha apreendida em seu escritório, a ex-assessora da Casa Civil Lytha Spíndola e o ex-ministro Gilberto Carvalho são citados como colaboradores de projetos de sua empresa. Lytha também é ré da ação penal, acusada de ter recebido propina em troca de ter feito gestões em favor das montadoras. Ela nega. Gilberto Carvalho é investigado por suposto "conluio" com o lobista, mas não foi denunciado. Também refuta qualquer ter participado de qualquer ilegalidade.
O lobista disse que a planilha foi elaborada por uma babá que promoveu a secretária e se atrapalhou ao produzir o documento. "Ela andou fazendo algumas planilhas e incorreu em vários erros. Gosto de poder ajudar as pessoas", justificou.
Ao fim da sessão, Marcondes chorou ao falar do impacto das investigações e da prisão sobre sua vida pessoal e profissional. Ele alegou que seu trabalho foi sempre de lobby técnico e que a denúncia do MPF, baseada em relatórios da Receita Federal, entre outros documentos, se baseia em distorções e "preconceito" contra a atividade. "Me sinto deprimido, não reconhecido. Está sendo visto só o lado negativo (do trabalho)", reclamou.
O lobista afirmou que as MPs investigadas (além da 471 e da 627, também há suspeitas sobre a 512/2010) trouxeram investimentos de US$ 70 bilhões para o Brasil e foram aprovadas sem maiores controvérsias no Congresso..