A sangria do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e a possibilidade de um rompimento próximo com a petista chegaram a tal nível que o PMDB de Minas Gerais está desdenhando do que seria o desejo de qualquer peemedebista: o comando de um ministério. A bancada foi contemplada com um convite para a pasta da Aviação Civil, mas entende que não vale a pena o desgaste e aguarda o resultado da convenção nacional de amanhã para decidir o que fazer. E é bom esperar mesmo. A ala oposicionista do partido vai pedir que seja colocada em votação a proposta de desembarcar de vez da gestão da petista e não vai faltar quem faça coro. Por outro lado, os mais moderados tentarão partir para um caminho mais intermediário, como liberar os parlamentares para votar como quiserem no processo de impeachment, porém sem sair do governo.
Nos bastidores, integrantes da bancada mineira acreditam que as chances de o deputado federal Mauro Lopes, convidado a assumir a vaga no ministério, aceitar a missão é pequena. “Vai gerar um desgaste grande para um ministério que não tem condições nenhuma de ajudar as bancadas nas bases. Nem Minas e nem a bancada federal estão fazendo questão, ninguém quer”, afirmou um parlamentar mineiro. Pelos trâmites normais, já era para Lopes ter sido nomeado, mas até agora seus colegas mantêm o suspense. Nem mesmo o vice-governador Antônio Andrade, que preside o PMDB mineiro, soube confirmar se ele assumirá a indicação. “Da última vez que falei com o Mauro Lopes, ele estava pensativo se ia ou não porque tinha essas questões do PMDB, mas a decisão era de não assumir antes da convenção do partido”, afirmou.
Questionado se a espera pela convenção seria por causa de um iminente rompimento, Andrade disse que não. “É porque ele está muito absorvido pela eleição, tem andado muito com o Michel (vice-presidente, Michel Temer, que será reeleito presidente do partido)”, disse. Apesar de os peemedebistas mineiros estarem divididos, o vice-governador disse que a maioria é pela manutenção da aliança com Dilma. O deputado federal Newton Cardoso Jr afirmou que a decisão de assumir o ministério é de foro íntimo do colega de bancada. O único apoio que ele garantiu foi a Michel Temer. “Precisamos fazer uma apuração mais profunda para tomar uma decisão. O país inteiro está em crise e vive uma necessidade de mudança, mas não podemos tomar medidas radicais a não ser embasadas em sólidos argumentos”, afirmou.
Apesar do clima desfavorável, Mauro Lopes admitiu que pode assumir o Ministério da Aviação depois da convenção, mas evitou comentar o assunto. O parlamentar afirmou estar preocupado, no momento, com a reunião do partido na qual, além de Temer, ele será reconduzido como secretário-geral. “Tudo indica que vai ser uma convenção tranquila”, afirmou. Nem tanto, se depender dos peemedebistas contrários à Dilma. “Vamos colocar moções de rompimento e pedidos para entregar os ministérios. Tem diversos deputados e diretórios dispostos a isso”, adiantou o deputado federal Lúcio Vieira Lima (BA).
Vontade
Segundo Vieira Lima, o Sul já fechou questão sobre isso e a vontade de romper com Dilma não falta. “O Temer é sempre mais moderado, mas tem uma ala muito forte hoje que pede o desembarque do governo e tem outra que quer continuar com os cargos. Vai depender de como vai ser a condução da convenção”, afirmou. Independentemente do resultado de sábado, o parlamentar vai às manifestações na Bahia e garantiu que outros peemedebistas irão engrossar os protestos pelo país.
Poucos dias antes da convenção, o presidente do Senado Renan Calheiros (AL) se reuniu com alguns dos principais nomes do PSDB, senadores Aécio Neves (MG), José Serra (SP) e Cássio Cunha Lima (PB) em um jantar em Brasília na quarta-feira. Depois do encontro, foi dito que os partidos caminharão juntos em busca de alternativas para o país. Tentar encontrar soluções para a crise e para voltar a colocar o país no rumo tem sido o discurso de Michel Temer durante as viagens que fez pelo país em campanha para continuar no comando da legenda. Apesar de ser candidato único, o vice de Dilma promoveu vários encontros recheados de críticas à petista nos estados.
Nessa quinta-feira (10), Renan Calheiros recomendou responsabilidade às lideranças do partido na convenção, afirmando que uma eventual posição do partido pode agravar ainda mais a crise. Segundo ele, o PMDB é o pilar da governabilidade. Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, defendeu que o partido tome uma decisão amanhã. Para ele, se não for possível romper com Dilma, o partido deve aprovar pelo menos uma postura de independência.