Convenção do PMDB deve estipular prazo para rompimento com o governo

Sem condições de aprovar de imediato uma decisão mais radical, a ala oposicionista garante ter acordo para dar uma espécie de aviso prévio para Dilma Rousseff

Juliana Cipriani
O primeiro passo para o rompimento oficial do PMDB com o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) deve ser dado neste sábado na convenção nacional que vai reconduzir o vice-presidente Michel Temer ao comando da legenda.
Sem condições de aprovar de imediato uma decisão mais radical, a ala oposicionista garante ter acordo para dar uma espécie de aviso prévio para a petista. O plano é aprovar um prazo de até 30 dias para a direção partidária pautar e votar uma consulta sobre a permanência ou não na administração, com a devida entrega dos cargos nos ministérios. Os mais moderados, porém, dizem que as moções aprovadas não terão validade.

O deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) disse não ter dúvida de que o prazo será aprovado. “Estamos articulando esse acordo que agrada as correntes de quem está no governo e, para quem quer a saída, já marca um prazo”, afirmou. Para o peemedebista, dentro desses 30 dias o sentimento de rompimento deve crescer. “Não tenho dúvida disso. O governo já acabou, não tem mais força.
É só uma questão de tempo.”

Segundo o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), o desembarque do governo será aprovado por aclamação. “Na prática, serão 30 dias para chamar ministros e o diretório, sentar e conversar. O PMDB pode morrer com o PT se não desembarcar e tem essa responsabilidade histórica com o país. É o maior partido, com mais parlamentares, sabe que a crise é verdadeira e tem um vice que pode assumir. O PMDB não pode fugir deste momento histórico”, afirmou.

Segundo um aliado de Temer, não é intenção do vice-presidente, de quem seria essa prerrogativa, colocar o assunto rompimento em votação. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), diz que não pode haver esse tipo de votação, pois o estatuto do partido não permite colocar em discussão assuntos que não estiverem na pauta. Já Darcísio Perondi afirma que isso vale apenas para as reuniões extraordinárias e, no caso de hoje, como trata-se de uma ordinária, podem haver decisões que não estavam pautadas.

Para Eunício Oliveira, muitas moções contrárias ao governo devem ser aprovadas, mas elas não são suficientes para romper com Dilma. “Moção é como um discurso, quando não consta da pauta é apenas um posicionamento, não tem efeito prático. A não ser que se convoque o diretório para este fim, tem zero efeito, não consta nem em ata”, disse. Segundo o senador, 40% da bancada na Câmara são contra a permanência do PMDB no governo, mas isso não foi suficiente para que eles conseguissem eleger um líder contrário à aliança.

Apesar da postura mais neutra, o líder Eunício Oliveira recebeu ontem o líder do DEM no Senado Agripino Maia em sua casa e deu mais uma mostra de que o PMDB está se aproximando da oposição. “Pela primeira vez estamos vendo uma convergência de partidos, independentemente de ser base ou oposição, para buscar alternativas para o país. Não é para salvar ou tirar a Dilma, o governo não tem muito mais o que discutir, é para ter um discurso a favor do Brasil”, disse..