Naira Andrade
Brasília - A presidente Dilma Rousseff rompeu o isolamento dos últimos dias e convocou a imprensa para defender o governo e aliados, às vésperas da manifestação pelo impeachment, marcada para amanhã. Ela foi enfática ao garantir que não vai renunciar. A petista respondeu às insinuações de que estaria resignada com a crise e ao possível convite para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir um cargo no Palácio do Planalto. “Vocês acham que tenho cara de estar resignada? Que eu tenho gênio de estar resignada?”, indagou. A oposição, por sua vez, rebateu as declarações e disse que falta “senso público” à presidente para reconhecer a situação atual do Brasil.
Dilma negou qualquer possibilidade de renúncia. “Nenhum líder da oposição, ninguém tem o direito de pedir a renúncia de um presidente legitimamente eleito pelo povo sem dar elementos comprobatórios de que eu tenha de alguma forma ferido qualquer inciso da Constituição. (...) A renúncia é um ato voluntário. Aqueles que querem a renúncia estão, ao propô-la, reconhecendo que não há uma base real para pedir a minha saída desse cargo”, rebateu a presidente. Foi uma resposta ao senador Aécio Neves, presidente do PSDB, que subiu à tribuna do Senado na quinta-feira, para pedir a renúncia dela
Reunidos no Alvorada, os ministros da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini; da Casa Civil, Jaques Wagner; da Advocacia Geral da União, José Eduardo Cardozo; e o assessor especial da presidente, Giles Azevedo, conversaram por mais de uma hora com a presidente analisando as possibilidades de entregar um ministério a Lula. Em relação ao foro privilegiado, uma parte entendeu que ele ajudaria Lula, por retirar o processo das mãos do juiz Sérgio Moro. Há no entanto, quem acredita que convencer os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), depois da manobra, seria ainda mais complicado do que o magistrado paranaense.
Mesmo sob investigação, Dilma afirmou receber com “orgulho” o antecessor. “Eu teria o maior orgulho de ter o presidente Lula no meu governo, porque é uma pessoa com experiência, com grande capacidade de formulação de políticas, e aí eu estou dizendo da capacidade gerencial dele.” A presidente ofereceu ao antecessor a Casa Civil ou a Secretaria de Governo.
A presidente criticou o pedido de prisão do antecessor. “Passou de todos os limites. Não existe, e acho que isso é quase consenso entre os juristas, não existe base nenhuma para esse pedido. É um ato que ultrapassa o bom senso, é um ato de injustiça e é um absurdo que um país como o nosso assista calmamente um ato desses contra uma liderança política responsável por grandes transformações no país, respeitado internacionalmente”, afirmou. Sobre as manifestações de amanhã, ela disse que o direito ao protesto é um patrimônio da democracia e fez um apelo pela tolerância aos manifestantes.
REAÇÃO A oposição reagiu com intensidade aos ataques de Dilma. O deputado federal Nelson Machezan (PSDB-RS), disse que a fala mostra “falta de senso público” da petista. “A renúncia seria uma alternativa. Se a presidente tivesse um pouquinho mais de senso público, provavelmente já teria entendido que o Brasil inteiro está exigindo que o país mude de rumo e que mude de dono. Hoje, o Brasil é uma propriedade privada de algumas pessoas que integram alguns partidos. Nós queremos devolvê-lo aos brasileiros”, avaliou.
“Uma das vitórias da democracia brasileira é o direito de livre manifestação. Não cabe, de jeito nenhum, a gente perder esse patrimônio da tolerância, característica do nosso país”
Sobre as manifestações de amanhã contra o governo
“Por interesses políticos de quem quer que seja, por definições de quem quer que seja, não sairei deste cargo sem que haja motivo para tal”
Sobre a possibilidade de renúncia
“Eu teria o maior orgulho de ter Lula no meu governo, porque ele é uma pessoa com experiência, grande capacidade de formulação de políticas”
Sobre Lula no governo
“Meu querido (ministro), você decida o seu destino de acordo com suas convicções e com aquilo que lhe é interessante”
Sobre a permanência de Wellington César no Ministério da Justiça