De verde, amarelo, azul e branco – ou qualquer outra cor – os cerca 30 mil manifestantes que foram à Praça da Liberdade tinham um coro único: mudar o Brasil. Para isso, defenderam a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e enalteceram a atuação do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações envolvendo a Operação Lava-Jato. Mas sobraram duras críticas ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde tramitam quatro ações em que a presidente é acusada de abuso de poder político e econômico na campanha de 2014, e ao Supremo Tribunal Federal (STF), que recentemente perdoou penas de alguns petistas condenados no processo do mensalão.
Para mostrar o descontentamento, os manifestantes usaram de muita criatividade: chamou muita atenção um banner em que a presidente Dilma é comparada ao Aedes aegypti e traz a frase “vamos combater a mosquita”. Quem passou pelo local podia fazer foto ao lado do material, com uma raquete para matar mosquito. E aqueles dispostos a gastar entre R$ 20 e R$ 30 podiam comprar bonecos infláveis do pixuleco e de Dilma. Ou as várias versões de camisas amarelas ou verdes dos grupos organizadores do evento.
Uma jararaca com a cara de Lula também atraiu muitas pessoas. O uso do animal foi uma alusão a declaração dada pelo ex-presidente no último dia 4, quando ele foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para prestar depoimento no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Na ocasião, o petista afirmou que, “se quiseram matar a jararaca, não fizeram direito, pois não bateram na cabeça, bateram no rabo, porque a jararaca está viva”. Muitos manifestantes se fotografaram com o pé na cabeça da cobra de espuma.
Um banner trazia uma foto-montagem do ex-presidente sendo conduzido pelo japonês Newton Ishii, aquele famoso agente da Polícia Federal que sempre aparece nas fotos das operações da corporação. Quem quis, pôde tirar uma foto ao lado do banner com direito a segurar uma algema. E se quisesse posar de delegado da PF, era só comprar uma máscara do japonês, vendida a R$ 5. Pelo mesmo preço, máscaras do juiz Sérgio Moro fizeram sucesso entre os manifestantes.
Bem diferente da visão sobre o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que foi alvo de faixas e cartazes de protesto na Praça da Liberdade. Um deles dizia “Janot. Delação de 100 milhões para Dilma. Acha pouco para ser investigado?”. Outra faixa tinha o texto: “Janot – isso é Justiça? Empresários que pagaram propina estão presos. Políticos receberam propina e estão soltos”. O STF e o TSE ganharam um cartaz com um grande olho no formato da bandeira do Brasil com os dizeres “STF/TSE = Vergonha. Nossos olhos se abriram. Obrigado, Moro”.
Delegados
Na esteira da manifestação, alguns grupos aproveitaram o clima de protesto para mandar seu recado. Um deles foi a Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), que levou representantes à Praça da Liberdade em busca de apoio à PEC 412, que dá autonomia à corporação, atualmente subordinada administrativa e financeiramente ao Ministério da Justiça. Na tentativa de agilizar a tramitação da proposta no Congresso, durante toda a semana os federais promoveram um corpo a corpo com deputados e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – que nesse domingo (13) também foi alvo da mobilização, com vários cartazes de “Fora,Cunha”.
O movimento Corrupção Nunca Mais montou um ponto de coleta de assinaturas para a apresentação de um projeto de lei de iniciativa popular prevendo punições mais severas para os casos de improbidade administrativa. A coleta começou em maio do ano passado em todo o país, e são necessários 2 milhões de assinaturas para o projeto. O grupo Patriotas também coletou assinaturas para a campanha “10 medidas contra a corrupção”, encabeçada pelo Ministério Público Federal. A lista será encaminhada para o MPF.