Indignação mostra sua cara nas manifestações contra Dilma e o PT

Passava um pouco das 9h quando o publicitário Adrian Paz caminhou pelo vão central da Praça da Liberdade com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida nas mãos. A passos lentos, ida e vinda, ele observava o início da movimentação dos manifestantes contrários ao governo Dilma. Chegavam famílias e grupos de amigos. Era gente de todas as idades. Se o tom das roupas não fugia do verde e amarelo, o discurso estava, de certa forma, padronizado: o mote é a insatisfação geral.

Adrian levou Nossa Senhora Aparecida para a manifestação não apenas como símbolo da fé que ele tem na mudança. “Nossa Senhora é quem pisa na cobra. Se o Lula se diz uma jararaca ela está aqui para nos proteger”, explica. O publicitário escolheu ironizar a comparação feita pelo ex-presidente Lula na manhã em que foi conduzido de forma coercitiva para prestar depoimento à Polícia Federal.

Adrian Paz nunca faltou a uma manifestação. Para ele, o país chegou a um ponto em que a presença do povo nas ruas é mais que necessária. “Está impossível de suportar”, disse. Convicto de que a corrupção é um problema grave no Brasil, ele acredita que o Brasil vive um momento em que todos os fatos devem ser apurados, independentemente do partido sob acusação. “O problema é que há tanta corrupção envolvendo o PT que o partido tem dominado a pauta. Acredito que vá chegar no outro lado (o dos adversários)”, espera.

Cidadãos como Adrian, que repetem presença nos protestos contra a corrupção e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, fizeram da simples presença na Praça da Liberdade um grito de basta. O advogado Reinaldo Stefani observa que, há cinco anos, os salários permitiam pagar as contas e fazer planos futuros. “As pessoas tinham perspectiva, pensavam em comprar imóveis ou outras coisas. Agora o dinheiro só dá para pagar as contas”, critica.

Aos 85 anos, a aposentada Ana Lúcia Rocha dos Reis participa pela terceira vez do protesto. É raivosa ao falar sobre “desmandos” do governo e, especialmente, das últimas notícias envolvendo o ex-presidente Lula. “É um descarado mentiroso. Já cansamos. De tão pobre que é até roubou um faqueiro do Palácio. Veja só isso”, revolta-se, usando de ironia.

Para o estudante Rafael Nunes, de 14 anos, a situação do Brasil precisa mudar. Ele também comparece, com a família, aos protestos desde o início do movimento contra o governo, em março do ano passado. “A crise afeta todos os brasileiros, do mais rico ao mais pobre, mulher, negro, índio, todo mundo. Precisa mudar”, cobrou.

Maria Lúcia Chaves da Fonseca, de 74 anos, é servidora aposentada dos quadros federais. Pela primeira vez, acompanhou o grupo de amigas à manifestação. Ainda não havia participado por medo de se ver envolvida em tumultos. Desta vez, avaliou ser necessária a presença na praça. “Temos que tirar esse povo corrupto do poder. O Brasil precisa mudar”, defendeu.

Aparecida Moreira, de 60 anos, também aposentada, escolheu protestar usando um nariz de palhaço. Diz estar cansada de sentir a crise econômica na pele. Quando vai ao sacolão ou ao supermercado se surpreende com a desvalorização do dinheiro. “Vamos ter mesmo que tirar esse governo. Não dá mais”, desabafou.

O médico Henrique Ruiz, de 34 anos, levou a família para o protesto. A vivência na área da saúde o permite avaliar como anda o descaso em relação à área. “Falta assistência e isso é fruto do mau uso do dinheiro público”, protestou.

Para Thiago Gonçalves, de 32, também médico, o Brasil se aproxima de um embate final. “Acho que estamos no início do fim. As investigações de casos de corrupção estão ganhando corpo. Há uma comoção pública que acho que agora vai”, apostou. Veterana nos protestos, a aposentada Lucília Moreira, 61, demonstra uma mistura de insatisfação e preocupação com o futuro do país. “Do jeito que está não dá, mas eu me pergunto quem vai ficar. Quem vai pegar esse gigante a gente não sabe”, disse.

OS VETERANOS

“O nível de corrupção que atingimos está impossível de suportar. São milhões de desempregados, empresas que se fecham e quem nos representa é uma mosquita e uma jararaca”
Adrian Paz, 47 anos, publicitário


“A situação não pode continuar desse jeito. Precisa mudar. O povo está cansado de roubalheira e incompetência. Esse governo é ineficiente. O Brasil não vai para frente com ele”
Rafael Nunes, 14 anos, estudante


“Não tenho partido. Estou aqui defendendo uma lisura. O grande mal que temos na política é o hábito de usar a coisa pública como privada”
Reinaldo Stefani, 36 anos, advogado


“Sempre estou aqui. Sou aposentada e, se não fossem os meus filhos, estava perdida. Só o meu plano de saúde custa mais que a minha aposentadoria. Lula é um mentiroso descarado. Já cansamos”
Ana Lúcia Rocha dos Reis, 85 anos, aposentada


“Desse jeito não dá, mas eu pergunto: quem vai ficar? Quem vai pegar este gigante, a gente não sabe”
Lucília Moreira, 61 anos, aposentada


OS CALOUROS

“Nas outras vezes, estava com medo de haver bagunça, mas desta vez não tive como não vir. É preciso tirar esse povo corrupto. O Brasil precisa mudar”
Maria Lúcia Chaves da Fonseca, 74 anos, aposentada


“Venho com sentimento de revolta contra a impunidade. Essa falta de assistência do governo, o mau uso do dinheiro público se traduz nos desvios da corrupção”
Henrique Ruiz, 34 anos, médico


“O povo tem que se unir, demonstrar força para apoiar as ações do Ministério Público. Falta emprego, aumenta a violência e por aí vai”
Thiago Gonçalves Wolf, 32 anos, médico


“Apoio a movimentação contra os atos de corrupção. Há um ano me formei em economia e até agora não vejo perspectiva”
Paulo Henrique Faria, 24 anos, estudante


“Já cansei. Vai ter mesmo que sair, porque não dá mais. Estou sentindo na pele. É preciso haver mais dignidade”
Aparecida Moreira, 60 anos, aposentada