"Amei a casa. Veio no momento em que eu mais precisava", afirmou Leila Pereira, 38 anos. Diarista, ela não pode trabalhar porque está grávida do quinto filho e enfrenta uma gestação de risco. A família sobrevive com rendimentos do Bolsa Família, mas Leila não sabe que o loteamento também faz parte do programa habitacional da presidente Dilma Rousseff. Ela conta que sempre falou diretamente com a prefeitura durante o processo de aquisição do imóvel.
Para saber se podia aumentar a casa de 36m², Leila consultou o prefeito de Luziânia, Cristóvão Tormin (PSD-GO). "O prefeito disse que a casa é minha e eu posso aumentar mais para trás", afirmou.
Os moradores elogiaram as instalações da casa nova e o fato de todas as unidades terem captação de energia solar para abastecer o chuveiro. Eles acreditam que vai ajudar a economizar na conta de luz. Entretanto, nenhum dos beneficiários entrevistados pela reportagem defendeu a presidente.
Carla Moraes, 29 anos, recebeu as chaves e comemorou o preço acessível da casa nova. "O valor é simbólico de tão barato que é", afirmou. Ela, que é dona de casa, vai pagar prestações mensais de R$ 25 por dez anos até quitar o imóvel. Apesar de feliz com o benefício, Carla criticou a presidente e espera que Dilma saia do cargo. "Eu sou a favor das manifestações. A luz aumenta, a comida aumenta. Talvez com o afastamento dela, isso possa melhorar", disse.
Oziris de Souza, 36, é vigilante e também trabalha como ajudante de pedreiro para complementar a renda. Por causa da situação econômica, ele defende que a presidente saia do governo. "Ela causou muito desemprego para o povo em geral, está cada vez mais difícil achar trabalho", disse. Ana Kelly Silva, 29 anos, disse que tem visto muitas acusações à Dilma na televisão e que a presidente está sendo "muito omissa".
Sem menções à presidente
A cerimônia contou com a participação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e de políticos locais da base do governo, a maioria do mesmo partido do ministro Kassab. Todos fizeram discurso para as famílias que recebiam as casas, mas nenhum chegou a mencionar o nome da presidente Dilma Rousseff.
"No Estado de Goiás, o governo da presidente Dilma, que não pôde vir hoje, junto com o governador Marconi Perillo, tem muito do investimento do Ministério das Cidades", disse Kassab, ao fazer a única menção ao nome da presidente durante todo o evento. O ministro direcionou seu discurso às famílias beneficiadas e não falou sobre política no palanque.
Em entrevista à reportagem, Kassab não respondeu se permanece no governo. Com o agravamento da crise política e a possibilidade de impeachment da presidente, os principais partidos da base, como o PMDB, ensaiam uma saída do governo com o abandono de cargos em ministérios e secretarias. Kassab assumiu o cargo em janeiro de 2015 e ganhou visibilidade ao viajar o País fazendo entregas de complexos residenciais e obras de infraestrutura e saneamento básico.
O ministro é presidente licenciado do PSD e fundou o partido em 2011, quando levou com ele diversos deputados de oposição para a base do governo Dilma. Atualmente o partido compõe uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, onde terá início a tramitação do processo de impeachment da presidente..