Impeachment e a caneta oficial

Baptista Chagas de Almeida

- Foto: Arte/Soraia Piva


“Vovó atenta ao diálogo que está conduzindo o processo.” A frase da presidente Dilma Rousseff (PT), praticamente um vaticínio, estava em outro contexto, mas coube como uma luva no fim do dia. Ela foi relatada pelo então líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), porta-voz do encontro que Dilma teve com um grupo de ministros mais próximos para avaliar a manifestação de domingo em favor do impeachment. No fim do dia, com a transferência do processo penal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que passou para o juiz federal Sérgio Moro, presidente das ações da Operação Lava-Jato, vovó Dilma conduziu, atenta aos fatos, o processo de nomear Lula ministro de Governo, no lugar de Ricardo Berzoini. E garantir a ele foro privilegiado. O martelo deve ser batido a qualquer momento.

E enquanto a vovó atenta demonstra tranquilidade, o vovô Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agiu exatamente ao contrário. E usou expressões que não podem sequer ser lidas nas salas de aula dos alunos dos primeiros anos. Apenas alguns pequenos exemplos: “sacanagem homérica”, “vou ser candidato à Presidência em 2018 porque acho que muita gente que fez desaforo pra mim vai aguentar desaforo”. Lula ainda faz questão de provocar e ameaçar: “Vão ter que ter coragem de me tornar inelegível”.

As manifestações nas ruas também merecem atenção.
E em parte tem razão o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, que atribuiu boa parte dos problemas e os protestos à crise econômica. De fato, mesmo políticos da oposição não foram tão bem recebidos assim nas manifestações. Sequer tiveram chance de discursar.

Antes mesmo de o ministro Lula assumir, a oposição já havia decidido focar o impeachment, seguindo o rito do Supremo Tribunal Federal (STF). O risco é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não julgar, no primeiro semestre, as ações de abuso de poder político e econômico. A instrução é demorada e o tribunal pode adiar o julgamento até que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seja condenado e, com isso, não possa presidir o país até nova eleição.

Em números
Ecos do levantamento do Instituto Paraná Pesquisa: Qual o principal motivo para o sr(a) ter vindo a esta manifestação? Contra a corrupção, 38,7%. Impeachment da Presidente Dilma, 23,5%. Contra os políticos em geral, 10,9%. Contra o PT, 7,7%. Mais um dado: A Presidente Dilma conseguirá chegar ao final do seu mandato, será afastada do cargo de presidente pelo Congresso Nacional ou será afastada pelo TSE? Irá conseguir chegar ao final do mandato, 19,7%. Será afastada do cargo de presidente pelo Congresso Nacional, 45,2%. Será afastada do cargo de presidente pelo TSE, 28,8%. Não sabe/não respondeu, 6,2%.

Promessa é dívida?
Está pautado para hoje na Câmara dos Deputados o projeto que troca a taxa Selic Composta para a Selic Simples nas dívidas dos estados com a União. Se o plenário vai conseguir votar, bem, esta é outra história.
O compromisso dos líderes ligados ao Palácio do Planalto – eles fazem questão de ressaltar – é pôr em votação. O que não significa aprovar. E há risco de ele ser tirado de pauta, caso seja este o prognóstico. Afinal, a diferença de um índice para outro é de 77% para 7%. Minas Gerais adoraria que passasse.

Mais números
Outros detalhes da pesquisa do Instituto Paraná: O ex-Presidente Lula acabará sendo preso nas investigações que estão ocorrendo contra ele? Não, 29,4%. Sim, 52,7%. Talvez, 15,9%. Não sabe/não respondeu, 2,0%. E não poderia ficar de fora: Em sua opinião, a atuação do Juiz Sérgio Moro, que preside ações da Operação Lava-Jato está sendo: muito coerente, coerente, incoerente ou muito incoerente? Muito coerente, 55,6%. Coerente, 35%.
Incoerente, 4,8%. Muito incoerente, 2,8%e não sabe, 1,8%.

Osso duro
Haverá uma disputa interna das boas para o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Câmara dos Deputados. De um lado, Rodrigo Pacheco (foto) (PMDB-MG), que é do ramo. Foi Conselheiro Federal, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e tem a simpatia tanto do senador Aécio Neves (PSDB-MG), quanto do governador Fernando Pimentel (PT). O adversário é osso duro de roer, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), apadrinhado pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Me dá um dinheiro aí
Quem esteve passando a sacolinha ontem em Brasília foi o secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas, Murilo Valadares. Mais uma vez foi tentar a liberação de R$ 1,2 bilhão de um contrato de financiamento do Banco do Brasil e atravessou diversos governos. A gestão anterior conseguiu liberar alguma coisa. O valor seria suficiente para todo o investimento que o estado teria para fazer. Valadares aproveitou a viagem e tinha encontro marcado com Maurício Diniz, coordenador do Programa de Aceleração do Crescimento (PSC).

Pingafogo

Mais pesquisa: O sr(a) defenderia a volta da ditadura militar no país? Não, 83,4%. Sim, 16,6%. O sr(a) defenderia uma intervenção militar provisória no país? Não, 67,6%. Sim, 32,4%.

O ministro Jaques Wagner garante que a base governista da presidente Dilma Rousseff (PT) tem maioria para barrar o processo de impeachment. Será que ele tem bola de cristal? Já combinou com o PMDB? Todo cuidado é pouco...

O Brasil age mesmo ao sabor do vento. Só os rumores que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse assumir um ministério fez a Bolsa de Valores cair  e o dólar subir.

O projeto de lei apresentado por diversos senadores, só para se ter uma ideia de que é quase uma unanimidade, prevê que o compositor portoalegrense Lupicínio Rodrigues (foto) seja o patrono da música popular brasileira (MPB).

É homenagem mais que merecida. Mais que um grande compositor, Lupicínio Rodrigues foi um ícone para inúmeros cantores da música brasileira e suas letras foram cantadas por importantes nomes da MPB.

O vice-líder do PT Wadih Damous (RJ), primeiro, foi sincero. Afirmou que o governo reconhece a expressividade do ato contra a presidente Dilma Rousseff (PT). Mas, depois, não perdeu a caminhada. Fez questão de ressaltar que considera impeachment um golpe.

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