O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou nesta terça-feira a delação premiada firmada entre o senador Delcídio do Amaral (PT/MS) e a Procuradoria Geral da República (PGR) para colaborar com as investigações da Operação Lava-Jato. Com o material homologado por Zavascki, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, poderá pedir novas investigações ao Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com o acordo de delação premiada várias lideranças políticas foram citadas por Delcídio. Entre elas a presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, os senadores Aécio Neves, Renan Calheiros, Romero Jucá, Humberto Costa, Eunício Oliveira, Gleisi Hoffmann, além do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha.
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No dia 3 de março passado, a delação de Delcídio vazou para a imprensa. A revista IstoÉ divulgou detalhes da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) que teria 400 páginas. O senador acusou a presidente Dilma Rousseff de atuar três vezes para interferir na Operação Lava-Jato por meio do Judiciário. "É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação", afirmou Delcídio na delação, segundo a revista. Cardozo deixou esta semana o Ministério da Justiça alegando sofrer pressões do PT.
Uma das investidas da presidente Dilma, segundo Delcídio, passava pela nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Tal nomeação seria relevante para o governo", pois o nomeado cuidaria dos habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ", afirma a reportagem.
Delcídio contou aos procuradores que a estratégia foi discutida com Dilma no Palácio da Alvorada e que sua tarefa era conversar "com o desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo", da Andrade Gutierrez.
Conforme a IstoÉ, Delcídio se reuniu com Navarro no próprio Palácio do Planalto, no andar térreo, em uma pequena sala de espera, o que, segundo o senador, pode ser atestado pelas câmeras de segurança. No STJ, Navarro cumpriu a suposta orientação, mas foi voto vencido.
Na sua delação, Delcídio teria citado vários nomes, entre eles o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e detalhou os bastidores da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, entre outros assuntos.
Sobre Lula, o senador disse que partiu do ex-presidente a ordem para que ele tentasse convencer o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso na Lava Jato, a não implicar José Carlos Bumlai numa eventual delação premiada.
Delcídio foi preso em novembro do ano passado sob acusação de tentar promover a fuga de Cerveró do País. O filho de Cerveró, Bernardo, entregou ao Ministério Público uma gravação sobre o suposto plano.
No acordo, o ex-líder do governo no Senado também cita irregularidades envolvendo parte da bancada do PMDB na Casa, além de representantes da oposição, como o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG).
No caso dos peemedebistas, os nomes mencionados foram do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e de seu grupo mais próximo, formado pelos senadores Romero Jucá (RR), Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA), Eunício Oliveira (CE) e Valdir Raupp (RR).
Sigilo
O inteiro teor da delação de Delcídio ainda permanece sob sigilo. Esse segredo poderá poderá cair quando a PGR apresentar denúncias contra os suspeitos ou se entender que a revelação dos depoimentos não prejudicaria as investigações.
Delcídio deixou a prisão em 19 de fevereiro, após ter ficado quase três meses na cadeia acusado de tentar obstruir as investigações da Operação Lava-Jato.