O delator admitiu ter "segurado a barra" para que não viesse à tona a movimentação financeira das empresas de Marcos Valério no Banco Rural que "atingiriam em cheio" o atual presidente do PSDB e seus aliados, como o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP). Segundo Delcídio o tema foi tratado na sede do governo mineiro, por volta de 2005 e 2006, quando Aécio governava o Estado e ainda lhe teria oferecido o avião do governo de Minas para ir ao Rio, o que foi aceito pelo senador.
Segundo o delator, quando a comissão determinou a quebra de sigilo do Banco Rural, utilizado para a lavagem de dinheiro do esquema de Marcos Valério - posteriomente condenado a 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - "curiosamente" começou a surgir "um certo incômodo por parte do PSDB", diz o senador. Um destes incomodados seria Aécio Neves que, segundo o delator, teria escalado Eduardo Paes, na época secretário-geral do PSDB, como emissário para que os prazos para a quebra de sigilos do banco fossem prorrogados.
Delcídio, na época, acatou o argumento do emissário tucano de que "não haveria tempo hábil" para o banco elaborar as respostas. O delator admitiu contudo que, posteriormente, Paes e o próprio Aécio Neves, na sede do governo de Minas, teriam lhe dito que o tempo extra foi uma estratégia para "maquiar" os dados do Banco Rural que "atingiriam em cheio as pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade, governador e vice-governador de Minas Gerais (na época)", diz o delator.
"Que, o declarante compreendeu a existência da maquiagem pelo fato de que a gênese do mensalão teria ocorrido em Minas Gerais; que o declarante não tomou nenhuma providencia ao saber que os dados estavam maquiados, ou seja, 'segurou a bronca'", segue Delcídio em seu depoimento à Procuradoria-Geral da República.
Clésio Andrade atualmente é réu na Justiça de Minas Gerais por suspeita de envolvimento no mensalão mineiro, que envolveu exatamente a lavagem de dinheiro por meio das empresas de Marcos Valério para a campanha à reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas em 1998. Até hoje, Azeredo, que também foi presidente do PSDB, foi o único tucano condenado no esquema de Marcos Valério que abasteceu o PSDB antes de chegar ao governo federal do PT. Diferente de seu correligionário e de Clésio, Aécio não chegou a ser investigado por envolvimento no mensalão.
A delação de Delcídio, contudo, indica que o esquema que também abasteceu os tucanos teria ido além da campanha de Azeredo.
Liechtenstein
Além de relembrar a polêmica CPI dos Correios, Delcídio Amaral relatou ter ouvido do ex-deputado do PP José Janene, morto em 2010, que o tucano, atualmente um dos principais expoentes da oposição, era beneficiário "de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato; que essa fundação seria sediada em Liechtenstein; que o declarante não sabe precisar, mas ao que parece, a fundação estaria em nome da mãe ou do próprio Aécio Neves", relatou Delcídio, sem dar mais detalhes.
Defesa
Procurado, a assessoria do senador tucano informou que as menções ao seu nome em todas as circunstâncias citadas por Delcídio "são falsas". "São citações mentirosas que não se sustentam na realidade e se referem apenas a "ouvir dizer" de terceiros."
A nota relaciona ainda os três pontos:
"1 - Delcídio do Amaral se refere a uma fundação que a mãe do senador planejou criar no exterior. Trata-se de assunto requentado já amplamente divulgado nas redes petistas na internet e, inclusive, já investigado e arquivado pela Justiça e pelo Ministério Público Federal há vários anos.
O assunto em questão foi devidamente analisado e arquivado, há mais de cinco anos, em 2010, após a Justiça Federal e o MPF do Rio de Janeiro constatarem a inexistência de qualquer irregularidade. Não houve sequer abertura de ação penal.
Ano passado, membros do PT reuniram material divulgado na internet e voltaram a apresentar a mesma falsa denúncia à Procuradoria Geral da República. Após o fornecimento das informações, o assunto foi novamente arquivado. Desta vez pela PGR, mais uma vez constada a inexistência de qualquer irregularidade.
Em 2001, a mãe do senador Aécio Neves cogitou vender alguns imóveis e aplicar os recursos no exterior. No entanto, o projeto foi suspenso em função da doença do marido dela e a fundação não chegou a ser implementada de fato.
Para o projeto, ela buscou a assessoria de um profissional que havia sido durante anos representante oficial de instituição financeira internacional, legalmente constituída no Brasil, sr. Norbert Muller. À época do contato, não existia qualquer razão para se duvidar da idoneidade profissional do representante.
Durante os seis anos em que o projeto ficou em suspenso (período entre assinatura dos primeiros documentos e o cancelamento definitivo do projeto, em 2007, em função do agravamento do estado de saúde de seu marido), a responsável fez dois pagamentos, em moeda nacional, e no Brasil, ao sr. Muller, referentes a despesas cobradas por ele. Esses valores corresponderam a uma média anual de cerca de 5 mil dólares.
Esses valores foram transferidos pelo representante para uma conta e corresponderam à totalidade dos depósitos realizados que foram integralmente consumidos em pagamentos de taxas e honorários. A conta nunca foi movimentada.
A criação da fundação foi devidamente declarada no Imposto de Renda da titular.
2 - Sobre a menção ao nome do senador Aécio com relação a Furnas, Delcídio repete o que vem sendo amplamente disseminado há anos pelo PT que tenta criar falsas acusações envolvendo nomes da oposição.
É curioso observar a contradição na fala do delator já que ao mesmo tempo em que ele diz que a lista de Furnas é falsa, ele afirma que houve recursos destinados a políticos.
3 - O delator relaciona o nome do senador Aécio ao Banco Rural no contexto da CPMI dos Correios. O senador jamais tratou com o delator Delcídio de nenhum assunto referente à CPMI dos Correios.
Nunca manteve qualquer relação com o Banco Rural, teve conta corrente na instituição ou solicitou empréstimos.
É fácil demonstrar que o PSDB não atuou na CPMI dos Correios com o objetivo de proteger ninguém. Pelo contrário, pode ser comprovado o posicionamento do PSDB na CPMI em favor do aprofundamento das investigações de todas as denúncias feitas durante os trabalhos da Comissão, incluindo aquelas relacionadas a nomes de integrantes do partido.
Segue anexa cópia da nota divulgada à época sobre o relatório final dos trabalhos da CPMI dos Correios, no qual é sugerido o indiciamento de integrantes do PSDB envolvidos.
Por fim, e ainda sobre esse assunto, é fácil demonstrar que Delcídio do Amaral não está falando a verdade. Ele diz que foi a Minas tratar com o então governador Aécio de assunto referente à CPMI. É mentira. O relatório final da CPMI data de abril de 2006 e a viagem de Delcídio a Minas ocorreu dois meses depois, no dia 7 de junho de 2006. O que demonstra que ele não poderia ter tratado de assunto da CPMI já encerrada. Na verdade, o encontro ocorrido foi a pedido dele para tratar do apoio partidário a seu nome nas eleições estaduais, em 2006, quando ele pretendia ser candidato no Mato Grosso do Sul.
Eduardo Paes
Citado pelo senador Delcídio Amaral, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), negou nesta terça-feira, 15, ter pedido adiamento do prazo de entrega do sigilo fiscal do Banco Rural e disse desconhecer que tenha havido "maquiagem" nas contas do banco.
Em nota, a assessoria de imprensa da prefeitura diz: "O prefeito Eduardo Paes nega que tenha sido procurado por Aécio Neves à época da CPI dos Correios para pedir a postergação da quebra de sigilo bancário ou por qualquer representante do Banco Rural para tratar do assunto. Ele desconhece que tenha havido maquiagem em quaisquer dados, mesmo porque o trabalho de investigação fora acompanhado por técnicos do Tribunal de Contas da União e do Banco Central"..