Durante entrevista coletiva, Mercadante disse que a sugestão de que poderia falar com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a situação do senador tinha apenas o objetivo de construir uma "tese jurídica". Em nenhum momento, segundo ele, a intenção era fazer uma defesa do senador, oferecer qualquer tipo de ajuda financeira, ameaçá-lo e impedir sua delação.
"Deixo muito claro que não fiz nenhuma proposta (de ajuda financeira)", afirmou. "Como vou propor algum tipo de ajuda financeira a Delcídio?", questionou.
Em diversos momentos da entrevista, Mercadante foi questionado sobre o momento em que disse que iria falar com um dos ministros do STF, Ricardo Lewandowski, para tentar tirar Delcídio da prisão. Mercadante afirmou, porém, que durante toda a conversa, o assessor de Delcídio tentou induzi-lo a fazer uma intervenção para impedir a delação.
Em sua defesa, Mercadante disse que nem todo o conteúdo da conversa foi divulgado, e mencionou trechos em que afirmou: "eu não tenho nada a ver com a delação dele", "minha preocupação é zero", "não estou nem aí se vai delatar ou não vai delatar". Mercadante disse ainda que achava que o senador havia cometido um erro, mas que não iria fazer uma defesa jurídica ou financeira de Delcídio. "Se ele ameaçava fazer uma delação, a decisão era dele."
Mercadante disse ter procurado o assessor de Delcídio depois de ter lido mensagens de uma campanha de difamação contra as filhas do senador na internet.
A todo o momento, Mercadante reiterou que suas sugestões foram feitas na condição de amigo de Delcídio e colega de Senado. Daí, segundo Mercadante, a proposta de, no âmbito do Senado, buscar uma solução jurídica, apelando aos consultores da Casa. "A única saída que eu via era por meio do Senado", afirmou. "Não havia ambiente para Delcídio sair da prisão sem tese uma jurídica consistente."
Diante da insistência de que suas ações poderiam ser interpretadas como tráfico de influência e tentativa de interferência no Judiciário, Mercadante voltou a dizer que, ao se referir aos ministros Teori Zavascki e Ricardo Lewandowski, só pensava na construção de uma "tese jurídica". "Tanto que, na gravação, está claro: eu disse que não iria me meter na defesa dele. Não sou advogado, não sei do que se trata", afirmou.
Ao ser questionado sobre se sua permanência no governo prejudicava ainda mais a situação política da presidente Dilma Rousseff, Mercadante disse que espera que a entrevista ajude a esclarecer o assunto. "Enquanto eu tiver a confiança da presidente Dilma, eu permaneço no governo." Mercadante disse ainda estar disposto a ir ao Congresso falar sobre a gravação.
Mercadante acusou o assessor de Delcídio de agir com de má-fé e disse estudar a possibilidade de entrar com medidas judiciais contra Marzagão. "Jamais falei sobre a questão com ministros do Supremo, ou sobre outras questões da investigação. Eu não tenho nada a ver com a delação dele", afirmou.
Sobre o pedido de prisão feito pela oposição à Procuradoria-Geral da República (PGR), o senador disse apenas que a oposição está fazendo seu papel. Ele não comentou a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir o cargo de ministro da Secretaria Geral da Presidência da República.
O ministro finalizou a entrevista fazendo um apelo à solidariedade, mesmo quando as pessoas erram ou cometem crimes. "Espero que este País valorize a solidariedade e o companheirismo em um momento de tragédia pessoal", afirmou. "Espero que não valorizem a tentativa de um interlocutor de conduzir uma conversa para o que ele quer", acrescentou.
Antes da entrevista, Mercadante se encontrou com a presidente Dilma.
Na entrevista, o ministro tentou argumentar que a conversa se limitou a tratar da construção de uma tese jurídica e de uma demonstração de solidariedade pessoal. Mercadante foi confrontado sobre diversos pontos da gravação e minimizou frases que disse a Marzagão. Ele não comentou, por exemplo, o fato de ter dito que o PT não tratou Delcídio de forma digna e abandonou o senador..