Dentro da cúpula do PMDB, não há consenso, porém, sobre qual poderá ser o impacto da atuação de Lula junto aos aliados. A expectativa é que, ao assumir o novo posto, o ex-presidente inicie um processo de reaglutinação, intensificando as conversas com as principais lideranças no Congresso. O entendimento de parte do PMDB é que Lula até poderá trazer um "novo gás" para o governo e dessa forma "embaralhar" os avanços do processo de impeachment contra Dilma e o desembarque da legenda.
Por outro lado, alguns setores do partido entendem que Lula se enfraqueceu com os desdobramentos mais recentes da Lava Jato e as manifestações anti-PT realizadas no último final de semana em todo o País. Em razão disso, deverá ter dificuldades no curto prazo para reorganizar a base aliada. O tempo de reação do "novo governo" é considerado como fundamental, uma vez que no radar dos peemedebistas está o calendário do impeachment. Nos cálculos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o processo de afastamento da presidente na Casa deve ser concluído nos próximos 45 dias.
Corpo a corpo
Em meio aos avanços da crise política no Congresso e da sinalização de afastamento do PMDB, a presidente Dilma Rousseff passou a intensificar nos últimos dias o corpo a corpo com lideranças da legenda do Senado consideradas primordiais para impedir os avanços do processo de impeachment.
A presidente se reuniu, nesta terça-feira, 15, no Palácio do Planalto, com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo no último sábado, 12, afirmou que o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), e a legenda estão preparados para assumir o comando do País, caso Dilma seja afastada do cargo.
"Fiz uma análise verdadeira do cenário", afirmou Eunício após deixar o Palácio. Questionado se Dilma demonstrou preocupação com o atual momento, o peemedebista inicialmente esquivou-se: "Encontrei uma Dilma muito serena. Ela é muito forte". Em seguida emendou: "Mas como não estar preocupado com o cenário político e econômico? Agora tudo ficou anormal".
O encontro entre os dois não consta na agenda oficial da petista. Segundo Eunício, na reunião, Dilma não mencionou a possibilidade de o ex-presidente Lula assumir um ministério nos próximos dias.
Além do líder do PMDB do Senado, Dilma também tem feito corpo a corpo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os dois se reuniram no início da noite dessa segunda-feira, 14. No mesmo dia, Dilma convocou os ministros do PMDB para medir a temperatura de seus subordinados após a convenção do partido no último sábado, quando a legenda aprovou uma moção que impede que membros do partido assumam novos cargos no governo pelos próximos 30 dias. A proibição vale até o diretório nacional tomar uma decisão definitiva sobre o desembarque ou não da gestão da petista..