Mais uma gravação explode no colo do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Com a homologação pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT/MS), veio à tona uma conversa gravada entre o assessor do parlamentar José Eduardo Marzagão e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que também já ocupou a Casa Civil. No áudio anexado à delação, o ministro promete ao assessor ajuda política, financeira e jurídica para o senador. Em troca, ele deveria ficar calado, ou seja, não fazer delação premiada nas investigações da Lava-Jato. Ex-líder do governo no Senado, Delcídio ficou preso por três meses e foi solto em 19 de fevereiro sob acusação de tentar impedir as investigações ao prometer ao filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró dar fuga ao pai para que o ex-diretor da Petrobras não fizesse acordo de delação premiada. Cerveró está preso há mais de um ano, condenado a 12 anos de prisão por receber propina no esquema da Petrobras. O ministro negou as acusações.
O áudio anexado à delação premiada revela o assessor de Delcídio reclamando que o senador venderia uma casa para pagar advogados. “Bom, isso aí também a gente pode ver no que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa.
O ministro também promete ajudar Delcídio com uma moção, que seria negociada com presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), para ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal. O objetivo do documento seria o relaxamento da prisão do senador. “Então, vocês precisam repensar o encaminhamento. Talvez o Senado fazer uma moção, a mesa do Senado, ao Teori, entendeu? Um pedido: olha, nós demos autorização considerando o flagrante, considerando as condições etc., mas não há necessidade pá, pá, pá, pá, pá, pá. E tentar construir com o Supremo uma saída”, afirmou o ministro.
Além de fazer a intermediação em favor de Delcídio junto a Calheiros, Mercadante disse que também conversaria com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, a fim de convencê-lo a acolher o pedido de relaxamento de prisão durante o recesso do Judiciário (dezembro e janeiro). “Eu vou tentar um parecer jurídico que tente encontrar uma brecha pra que o Senado se pronuncie junto ao Supremo com o pedido de relaxamento da prisão”, prometeu o ministro ao assessor de Delcídio.
O ministro foi mais longe em sua conversa com o assessor do senador, chegando a traçar a estratégia de defesa do seu colega no Senado. Mercadante sugeriu não só brecar a delação premiada de Delcídio. “O cara, pô, fodido, acuado, arrebentado, sangrando... eu vou fazer o seguinte: eu vou conversar com alguns advogados que eu confio. Acho que vou chamar o Bruno Dantas pra conversar, que foi advogado-geral da União muito tempo...
Omissão
Em entrevista coletiva, Mercadante negou que estivesse tentando evitar a delação de Delcídio e que suas falas foram deturpadas. Ele também tratou de eximir Dilma de qualquer responsabilidade. “A responsabilidade é só minha, a iniciativa foi minha”, disse o ministro, ao se referir à reunião que fez com o assessor do senador. Disse ainda que fez todas essas promessas apenas por solidariedade.
Ele afirmou que “trechos fundamentais” para entender sua intenção em prestar solidariedade ao senador foram omitidos em conversa divulgada pela imprensa. Mercadante disse ter sido firme em deixar clara a opção de fazer ou não delação ou não era direito exclusivo do senador e não objeto de sua preocupação. “Mas é o seguinte: não tenho nada a ver... o Delcídio... zero... não tô nem aí se vai delatar, não vai delatar, não tô nem aí... a minha questão com ele é que acho um absurdo o que aconteceu com ele”, afirmou o ministro.
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