Brasília, 16 - O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) fez uma alusão ao futebol para comentar a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil. Segundo ele, esta é uma "escalação de alto risco", em um momento que pode representar "o rebaixamento" do time, referindo-se ao PT.
No cenário criado por Alencar, Lula seria um "craque", que "já emocionou multidões" e entra em campo "às vésperas de uma partida decisiva, já com um cartão amarelo e um terço do jogo jogado"; o juiz Sérgio Moro seria "um árbitro severo" e a torcida na "arquibancada" estaria extremamente "dividida".
"Vai ter uma parte da arquibancada que toda vez que o Lula tocar na bola vai gritar e vaiar", comentou. Para Alencar, as acusações da Lava Jato que pesam contra o presidente Lula podem "intensificar o ódio" dos que foram às manifestações do último domingo, 13.
Contudo, Alencar destacou que é preciso considerar também outros atos. Ele admitiu estar curioso para ver as manifestações pró-governo da próxima sexta-feira, 18, apesar de acreditar que serão consideravelmente menores do que as anteriores. "Falo como alguém que não está nesses polos contra ou a favor, nem tem ilusões de que com a saída da presidente Dilma Rousseff para a entrada do vice-presidente Michel Temer o País vai resolver tudo, a corrupção vai começar a diminuir, não é nada disso. É um processo longo e profundo. Tinha que mudar o próprio sistema político como um todo, mas isso é algo que o Congresso já rejeitou" declarou o deputado.
Sobre a delação do senador Delcídio Amaral (MS), homologada nesta quarta-feira, 16, com menções não só a membros do governo, como também da oposição, Alencar disse que "Delcídio igualou todos os figurões da política brasileira". Para o deputado do PSOL, Lula ainda possui "certa popularidade", mesmo depois do desgaste com os casos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. "Nas pesquisas, Lula continua ali ombreado com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que por sua vez também está chamuscado com essa (operação) Lava Jato."
Bancada ruralista
Logo após a divulgação da informação de que Lula assumiria a Casa Civil, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), conhecida como "bancada ruralista", decidiu, por unanimidade, apoiar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
"A situação é gravíssima e a presidente não tem mais condições de governar o País", disse o deputado Carlos Marun (MS), um dos 215 deputados que integram a FPA. De acordo com ele, 40 membros participaram da votação no final da manhã desta quarta-feira.
Para Marun, a nomeação de Lula, oficializada pelo Planalto no início desta tarde, "não muda em nada o pensamento da Frente" e é uma primeira reação ao ingresso do ex-presidente no governo Dilma.
A bancada ruralista é uma das mais fortes da Câmara e uma das principais frentes de sustentação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).