Telefonemas grampeados pela Polícia Federal mostram que Luiz Inácio Lula da Silva e seu entorno agem como proprietários do sítio Santa Bárbara, em Atibaia. O imóvel está em nome de dois amigos do petista, entre eles o empresário Fernando Bittar. Mas, para levar convidados a um churrasco no local, Kalil Bittar, irmão do "dono" oficial, precisou de autorização de um dos filhos de Lula. Numa das conversas, ele soltou: "Estou na casa daquela acumuladora chamada Marisa Letícia".
Em outra conversa, Kalil questiona Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do ex-presidente: "Vou ver se convenço o Fabiano a vir para cá. Tenho sua autorização para isso?" "Você tem autorização para tudo, meu amor", assentiu Fábio.
Os dois discutem detalhes, como os cortes de carne para passar o dia na piscina. Ao chegar em Atibaia, Kalil liga novamente para Fábio Luís e diz que está com dificuldades para contatar o caseiro Maradona, que estava lavando os pedalinhos dos netos de Lula. O filho de Lula, então, avisa o funcionário: "O irmão do Fernando, o Kalil, tá indo praí".
Em relatório sobre as ligações, a PF diz causar "estranheza" um irmão do proprietário oficial do sítio pedir permissão para usar as dependências. Durante a estadia, Kalil liga para a mulher de Fábio Luís e faz vários comentários sobre a casa da "acumuladora chamada Marisa Letícia". Conta ter feito uma "limpa" na geladeira, repleta de comida vencida, a exemplo de um "hamburguesinho" fabricado "antes da eleição" da presidente Dilma Rousseff.
"Estou com a equipe de segurança, eu, Maradona, umas três galinhas que acho que não venceram. Acho que eu fiz uma merda: abri um vinho que tem número de série", confessou. O "hóspede" diz ter espiado o quarto da família, descobrindo que a "arma" que o presidente tem "é uma lanterna". "Se você olhar para cima do guarda-roupa, só tem roupão… Estou muito seguro com os equipamentos de segurança do presidente, uma lanterna", ironizou.
"Traz ovos, rúcula e vem aqui para São Bernardo", disse Renata.
O sítio está no centro das investigações da Operação Lava Jato. A suspeita é de que o ex-presidente oculte ser o verdadeiro dono na propriedade, reformada por empreiteiras acusadas de desviar recursos da Petrobrás. O petista diz que frequenta o Santa Bárbara, mas sustenta não ser o dono.