Investigações conduzidas pela Receita Federal ameaçam filhos de Lula

Diálogo entre o ex-presidente e o titular da Fazenda mostra a preocupação do petista com avanços da Operação Zelotes. Há indícios de envolvimento em compras de medidas provisórias e de pagamentos ilegais de prestação de serviço

Rosana Hessel
O ex-presidente e recém-nomeado ministro da Casa Civil, Luiz Inácio Lula da Silva, tem razões de sobra para se preocupar com as investigações que vêm sendo conduzidas pela Receita Federal.
Há riscos concretos de ele, e sobretudo, um de seus filhos serem pegos dentro Operação Zelotes, que investiga corrupção no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). O órgão, ligado ao Ministério da Fazenda, é responsável por julgar os recursos de autuações do Fisco contra empresas e pessoas físicas por sonegação fiscal e previdenciária.

A preocupação de Lula ficou clara em uma conversa entre ele e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, ocorrida em 7 de março, que foi grampeada pela Polícia Federal. A interceptação telefônica, obtida por meio de autorização judicial, mostra o ex-presidente pedindo ao chefe da equipe econômica para intervir na Receita. Na gravação, Lula reclama muito da investida do Fisco no Instituto Lula. “É preciso acompanhar o que a Receita Federal tá fazendo (sic) junto com a Polícia Federal, bicho!”, disse o líder petista a Barbosa, que gaguejou ao falar: “Eles fazem parte”, demonstrando certo constrangimento. O ministro admitiu, porém, receber uma lista de reclamações do Instituto Lula preparada por Paulo Okamoto, diretor da entidade.

Deflagrada em março de 2015, a Operação Zelotes investiga um esquema que pode ter acarretado prejuízos de R$ 19 bilhões aos cofres públicos. As investigações vêm sendo conduzidas em parceria entre a Receita e a PF, como ocorre na Operação Lava-Jato.
Foi na quarta fase da Zelotes, em outubro do ano passado, que o Fisco e a Polícia Federal chegaram a um dos filhos de Lula, Luís Cláudio. As empresas deles, a LFT Marketing Esportivo e a Touchdown Promoções e Eventos Esportivos, foram alvos de busca e apreensão.

Lobistas

No cruzamento de dados da Receita, o Leão identificou irregularidades na LFT ao justificar o recebimento de R$ 2,4 milhões. Luís Cláudio afirmou que as receitas eram oriundas de uma consultoria que a empresa havia prestado. Mais tarde, descobriu-se que o estudo feito pela LFT era, na verdade, uma cópia de um outro trabalho que estava na internet. A consultoria havia sido prestada a Marcondes e Mautoni Empreendimentos, controlada por Mauro Marcondes, um dos lobistas investigados por negociar medidas provisórias durante o governo Lula que favoreceram o setor automotivo. Marcondes está preso..