O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, e lideranças governistas do Congresso criticaram as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo, publicada neste domingo, 20, defendeu o impeachment da presidente Dilma Rousseff como o caminho da superação da crise por que passa o País. O ex-presidente chamou os grampos que envolveram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "coisa de chefe de bando" e ainda classificou a nomeação dele para a Casa Civil como "golpe palaciano".
Embora tenha ressaltado ter um "grande respeito" pelo ex-presidente, Cardozo disse lamentar a sua posição. "Ele tem um passado de defesa da democracia. E que desconhece (que) impeachment sem fato imputável a presidente não pode acontecer no regime presidencialista. Portanto, só tenho a lamentar essa posição do ex-presidente", disse o ministro, um dos auxiliares mais próximos de Dilma.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou neste domingo que Fernando Henrique Cardoso assume o "golpismo" ao defender o impeachment de Dilma. "Ele enterra seu passado de sociólogo, que lutou pela democracia durante o regime militar. Passa a liderar o golpismo no País", afirmou. "Quer governar o Brasil de novo? Espera até 2018", alfinetou.
Sobre as críticas do tucano a Lula - ele afirmou que dá "tristeza" ver o petista "enterrar a própria história" - Guimarães disse que FHC "não tem autoridade" para criticar Lula. "O governo do presidente Lula deu de 10 a 0 no governo dele", afirmou. "Com todo esse massacre midiático, Lula é o melhor ex-presidente da história do País", completou. Para Guimarães, as críticas de FHC é atitude de soberba e preconceito de um sociólogo que não se conforma de que o governo de um analfabeto foi melhor do que o dele.
O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), disse que as declarações do ex-presidente tucano são inoportunas e equivocadas. O petista destacou que, se FHC quisesse mesmo ter uma postura de estadista, não estaria colocando "gasolina na fogueira" da crise ao se alinhar com os insensatos que não têm qualquer compromisso com o País. "Infelizmente, FHC está menor do que o paletó que usa", disse.
Florence afirmou ainda não haver motivos jurídicos para afastar Dilma por crime de responsabilidade. Ele destacou que o ex-presidente conclama, dessa forma, o desrespeito ao voto popular porque a atual presidente foi reeleita com 53 milhões de votos e não pode ser retirada a partir de protestos populares do domingo (13). "O PSDB tem que rever seus compromissos com a democracia", avaliou.
Alinhamento
O líder dos tucanos na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), disse que as declarações de FHC coincidem "completamente" com a bancada de deputados do partido. Ele disse que o quadro político, econômico e as investigações da Operação Lava-
Jato deterioraram de tal maneira que não é possível esperar uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Corte em que tramita processos movidos pelo PSDB que visa a cassar a chapa Dilma e o vice Michel Temer e que poderia levar ainda este ano a novas eleições. "O cronograma do impeachment é mais rápido que o do TSE", reconheceu.
Florence afirmou que as manifestações de sexta-feira, 18, em favor de Dilma e Lula foram maiores que as do domingo, 13. Imbassahy, contudo, rebateu e disse que isso é mais um "desejo" do que uma avaliação. "Independente das manifestações, o que importa é que ela cometeu o crime de responsabilidade e a Constituição determina o afastamento dela", disse.
Aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por admitir o pedido de impeachment contra Dilma, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) elogiou a postura "estadista" de FHC, que defendeu o impeachment de Dilma. "Lula deveria se espelhar em FHC, que é um grande estadista", provocou.
O parlamentar disse concordar com o ex-presidente tucano que a solução para a crise do País é a saída da presidente, mas ainda acredita que o melhor caminho ainda é a renúncia. "Ela faria um favor porque se renderia aos fatos e ajudaria a unir o Brasil", afirmou. FHC também entendia que a melhor saída seria a renúncia de Dilma, mas mudou de opinião.
Assim como o ex-presidente, o deputado diz que a legitimidade do pedido de impeachment na Câmara vem da rua, independentemente da situação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está envolvido na Operação Lava Jato. "O impeachment engrenou pela legitimidade das ruas. O povo quer tirar alguém que cometeu crimes", afirmou. Vieira Lima lembra que o processo perdeu força quando Cunha estava no foco da Lava Jato, com a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
O deputado também faz coro às críticas do ex-presidente à atuação de Lula. "Ele não está enterrando sua história, como diz FHC. Um homem que era respeitado em todo mundo não se comportou como um estadista", afirmou.