Parte do PMDB já declarou opção por deixar base aliada do governo

Pelo menos 10 diretórios estaduais do PMDB se declararam favoráveis ao abandono do Palácio do Planalto, antes mesmo do prazo para a legenda decidir se rompe com o governo

Marcelo da Fonseca
Peemedebistas se reuniram em Brasília no dia 12 e decidiram tirar uma posição oficial sobre o governo Dilma na próxima terça-feira (29) - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A menos de uma semana da reunião do diretório nacional do PMDB, que decidirá sobre o desembarque ou não da legenda do governo federal, 10 diretórios estaduais declararam sua posição favorável ao abandono do Palácio do Planalto. Alguns deles, como foi o caso dos diretórios de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, resolveram não esperar nem mesmo a posição final do diretório nacional e decidiram entregar os cargos que ocupavam no governo. Os catarinenses já entregaram os cargos. Outros, apesar de demonstrar o descontentamento e se posicionar pela saída, ainda aguardam a definição oficial da próxima semana.


Enquanto os diretórios se movimentam, o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, continua dando indícios fortes de que a legenda vai mesmo deixar o governo. Nessa terça-feira (22), ele se reuniu com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, para discutir uma “agenda emergencial para o Brasil”. A aproximação entre tucanos e peemedebistas acontece desde a semana passada, quando a crise política se agravou. Aécio afirmou ter encontrado um vice “sereno e consciente do seu papel” e afirmou que o PSDB não fugirá “à responsabilidade” de contribuir com a estabilização do país.

Já o presidente do Senado, Renan Calheiro (PMDB-AL) adotou posicionamento de cautela sobre o desembarque do seu partido do governo federal e cobrou responsabilidade dos colegas. Após se reunir com Lula nessa terça-feira (22), Renan foi questionado se a destituição da presidente pode ser chamado de “golpe”.

Ele afirmou que, sem a caracterização de crime de responsabilidade, o processo que está sendo deflagrado no Congresso não pode ser chamado de impeachment.

Cargos

Mas a posição de Renan parece que vai na contramão das lideranças regionais, que já falam abertamente na entrega dos cargos. “O PMDB de Santa Catarina foi o primeiro a deixar o governo. Devolveu a presidência e a diretoria da Eletrosul e a presidência da Embratur”, informou a assessoria do diretório estadual peemedebista. Na semana passada, os presidentes da Eletrosul, Djalma Berger, e da Embratur, Vinícius Lummertz, entregaram seus cargos. Parlamentares catarinenses avaliam que a decisão partiu das lideranças estaduais do partido e não seria preciso aguardar uma posição da executiva nacional.

Partiu do grupo catarinense o pedido para que o ministro da Aviação Civil, Mauro Lopes (PMDB-MG), seja expulso da legenda. “O deputado Ronaldo Benedet (PMDB-SC) foi o autor da proposição aprovada no diretório nacional de que nenhum peemedebista poderia aceitar cargo no governo federal pelos próximos 30 dias. Esse rompimento é justificativa clara para que o ministro seja expulso da legenda”, informou o diretório estadual do PMDB.

CAUTELA Já em outros diretórios, o desembarque do governo está sendo tratado de forma mais cautelosa. Os peemedebistas baianos, por exemplo, votaram em encontro do diretório para que a legenda deixe o governo, mas aguarda uma confirmação da executiva nacional. “Também desembarcamos, mas no dia 29 será feita uma confirmação dessa retirada. Claro que a posição final é do (diretório) nacional, mas fizemos uma carta mostrando nossa posição e agora não tem como voltar atrás”, avalia o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

O parlamentar é um dos integrantes do PMDB na comissão do impeachment e ressalta que, desde 2014, as lideranças da Bahia se afastaram da presidente Dilma Rousseff (PT). “Desde 2014, quando não apoiamos a reeleição, não temos mais cargos para entregar. Ou seja, nós nem entramos nesse governo”, afirma Vieira Lima. O deputado alerta para uma tentativa do governo de tentar ganhar tempo na comissão do impeachment, mas critica também a postura do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de tentar acelerar o ritmo da comissão.

Sobre a possibilidade anunciada nessa terça-feira (22) por Cunha de a Mesa Diretora da Câmara convocar a votação do impeachment para um domingo, o deputado baiano afirmou ser contra.
“Fica parecendo que é preciso alterar a rotina do parlamento. Não concordo com esse tipo de postura. Uma tentativa de forçar o andamento e que dá uma impressão muito ruim para o processo”, avalia Vieira Lima.

Outro diretório que já se posicionou pelo desembarque do governo Dilma, mas mantém postura de espera até a decisão da executiva, é do PMDB de São Paulo. O presidente da legenda, deputado Baleia Rossi, considera que os peemedebistas paulistas já se decidiram pela saída do governo, mas a palavra final será dada na próxima terça-feira, dia 29.

Os gaúchos também colocaram um pé fora da canoa governista. Em reunião na noite de segunda-feira, o diretório estadual reforçou a posição de independência em relação ao Planalto e propôs a devolução dos cargos ao governo. Os diretórios do Espírito Santo, Piauí, Distrito Federal, Acre, Pernambuco, Maranhão e Mato Grosso do Sul indicaram que votarão pela separação do governo petista na próxima semana.

 

 

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