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Estado de Minas

A trilha sonora do impeachment

Meu mundo caiu. E me fez ficar assim. Você conseguiu. E agora diz que tem pena de mim


postado em 24/03/2016 00:12

Baptista Chagas de Almeida

Vem da saudosa Maysa a trilha sonora da atual crise política brasileira, em especial, depois da divulgação da superplanilha da Odebrecht com valores doados a políticos: “Meu mundo caiu. E me fez ficar assim. Você conseguiu. E agora diz que tem pena de mim. Não sei se me explico bem. Eu nada pedi. Nem a você nem a ninguém. Não fui eu que caí”. O mundo político brasileiro caiu. E não sobrou pedra sobre pedra, partido sobre partido. Os maiores do país estão envolvidos, de acordo com os documentos em poder da Polícia Federal (PF). É uma crise sem precedentes, daquela de deixar o escândalo do Mensalão para revistas em quadrinhos destinadas a crianças.

A superplanilha da Odebrecht traz os valores destinados aos políticos. Está guardada em segredo, decretado pelo juiz federal Sérgio Moro, que comanda a Operação Lava-Jato, mas em política segredo costuma durar pouco. Maysa de novo: “Sei que você me entendeu. Sei também que não vai se importar. Se meu mundo caiu. Eu que aprenda a levantar”. Agora não é mais a artista: “Dinheiro para pagar os advogados, porque eu vou precisar”.

Em um pesado editorial, a vetusta e respeitada internacionalmente revista The Economist defende a renúncia da presidente Dilma Rousseff (PT). E de forma bem agressiva. O argumento é “tentativa grosseira de impedir a Justiça”. Enquanto isso, mesmo depois de ter manifestado com os ministros mais próximos o temor de que pode sofrer o impeachment, a presidente Dilma, da boca para fora, mantém o discurso otimista: “Eu tenho convicção de que teremos os votos necessários”. E ainda espera ter o apoio do PMDB, que já prepara o desembarque e com as devidas bênçãos do vice-presidente Michel Temer, comandante peemedebista.

É, não tem jeito, Maysa de novo: “Meu mundo caiu. E me fez ficar assim. Você conseguiu. E agora diz que tem pena de mim.”

 

 

Outra bomba
O empreiteiro José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro (foto), ex-presidente da OAS, pode “detonar mais uma bomba” na crise política. Ele está negociando um acordo de delação premiada com a forças-tarefa do Paraná e da Procuradoria-Geral da República. A decisão deve ser anunciada em breve. “As negociações estão avançando. É uma questão de sobrevivência”, disse um privilegiado interlocutor de um dos empresários. Vale lembrar que a OAS fez a reforma do sítio que seria do ex-presidente Lula em Atibaia (SP). Condenado a 16 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, o empresário foi solto com tornozeleira eletrônica.

 

Barrado de novo
Vida de minoria não é mesmo fácil. Na terça-feira, a oposição na Assembleia Legislativa foi derrotada na Comissão de Segurança Pública ao tentar aprovar requerimento para dar ao juiz Sérgio Moro o título de Cidadão Honorário. Ontem, nova derrota. Desta vez, na Comissão de Direitos Humanos. Os deputados governistas aprovaram, por unanimidade, uma manifestação de repúdio a Moro “em razão de gravíssimas ilegalidades cometidas pelo magistrado no processo da Operação Lava-Jato”. Como se diz, então, ta!

 

Grampo
No foco da manifestação, a divulgação das gravações entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a presidente Dilma Rousseff (PT) para a Rede Globo do que consideram “ilegalidade da interceptação, realizada fora do horário determinado para o seu fim”, expondo-a “perigo de lesão”. A tese é de um “jurista” da Assembleia Legislativa. O requerimento foi apresentado pela líder do bloco Minas Melhor, deputado Rogério Correia (PT).

 

Debandada do PMDB
Ainda sobre o já iniciado processo de desembarque do PMDB da base governista da presidente Dilma Rousseff (PT). O líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ) comanda a bancada do Rio, de sete deputados, mas tem influência em pelo menos mais 28 peemedebistas. Que agiam assim no governo, 40% ficava de fora e 60% dentro. E um grupo lavava a mão do outro com as emendas. Só que agora, o desembarque, salvo raras exceções, será generalizado. Dilma está cada vez mais isolada.

 

Tenho dito
Nunca antes notas da coluna tiveram tantas versões, com tão pouco personagens. Desta vez, é o deputado Cabo Júlio (PMDB) quem escreve: “Gostaria de fazer alguns esclarecimentos sobre a nota “Missão cumprida” publicada em sua coluna desta quarta-feira que faz menção a um “faniquito” protagonizado por mim. Em primeiro lugar, esclareço que sequer estava na Assembleia Legislativa no dia da votação, pois estava socorrendo meu filho de 3 anos com febre alta. E por derradeiro acredito que o trabalho do juiz Sergio Moro é digno de reconhecimento de qualquer brasileiro que deseja um país melhor”.

 

Pinga Fogo

Na solidão da tribuna ontem na Assembleia Legislativa, apenas um ato de heroísmo. O deputado Wander Borges (PSB) foi o único que subiu para discursar. Ele aproveitou para cobrar mais rapidez na duplicação da BR-381.

“Precisamos continuar cobrando do governo federal mais responsabilidade em relação à BR-381”, reclamou Wander Borges, referindo-se aos altos índices de acidente na parte da rodovia que ainda não foi duplicada. É preciso mesmo reclamar.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), jura que só recebe doações de Caixa 1. É mais um episódio da famosa série “Acredite se quiser”. Que pode até mudar: “Acredite, se puder”.

Já que não conseguiu ser ministro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ser nomeado assessor especial da Presidência da República. A informação é do chefe de gabinete pessoal da Presidência, Jaques Wagner.

É aquela velha história. Se não tem tu, vai tu mesmo. Se não dá para ser ministro, Lula pode virar assessor. Mesmo especial, não fará bem à sua biografia, não é mesmo?

“Terra arrasada”. Os deputados, finalmente, descobriram a expressão certa para definir a delação premiada dos empreiteiros. E olha que alguns preferiram outras expressões, mas elas são proibidas aos menores de 18 anos.


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