A face mais visível do placar no processo para a abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff em curso na Câmara dos Deputados é a de um sistema partidário caótico, incapaz de coesão nas próprias bancadas. Contando com aproximadamente 126 votos a seu favor, contra cerca de 246 deputados que se manifestam pela instalação do procedimento, o governo joga as fichas sobre os cerca de 141 deputados federais que se declaram indecisos: precisa garantir 172 votos.
Para além de parte do PMDB, que articula abertamente o impedimento da presidente com a perspectiva de assumir o cargo maior, os parlamentares que hoje estão em compasso de espera pertencem a uma salada de partidos políticos que inclusive estão representados na Esplanada dos Ministérios. À exceção das siglas que integram o núcleo do governo, – representadas pelo PT e PCdoB – e do centro duro da oposição, – formado pelo PSDB, DEM, PPS e SD –, legendas pouco significam se o que conta é prever o posicionamento em relação ao impeachment. Da mesma forma, pertencer ou não aos governos que nos estados integram a base aliada de Dilma Rousseff pouca diferença faz.
Os campos adversários se movem na Câmara dos Deputados em meio a uma guerra por adesões baseada na máxima “cada cabeça uma sentença”. Os parlamentares em cima do muro negociam individualmente com os dois lados, tornando a batalha difusa em atores múltiplos alojados no PSD, no PTB, no PR, no PDT, para ficar nestes de estatura mediana que encabeçam ministérios. Esta é uma lógica que se reproduz junto à maior parte dos 25 partidos representados na Casa, que acaba de passar por uma dança frenética de migrações envolvendo mais de oito dezenas de deputados federais.
O PTB é o exemplo mais gritante da falta de coesão partidária. De um lado, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro (PE), senador licenciado, critica o caráter político do processo: “Não somos uma republiqueta, o processo de impeachment tem que seguir a Constituição, mas se o processo tiver caráter apenas político poderá afrontar a ordem legal”. De outro, a presidente do partido, deputada Cristiane Brasil (RJ), filha do ex-deputado Roberto Jefferson – condenado no processo do mensalão – conclama os deputados a votar pela saída de Dilma. Atualmente com 19 parlamentares na bancada federal petebista, que elegeu 25 em 2014, cada um atira para um lado: sete estão indecisos, três declaram ser contrários e nove favoráveis.
INDECISOS No balanço após o troca-troca partidário, o PSD, com a sua bancada de 33 cadeiras, também está desagregado. Enquanto o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, presidente licenciado, garante que o PSD segue firme no apoio a Dilma Rousseff, o score da bancada registra 15 favoráveis, 15 indecisos e 3 contrários. Da mesma forma no PR, que mantém o Ministério dos Transportes com Antônio Carlos Rodrigues (SP), suplente da senadora Marta Suplicy, ex-petista, agora no PMDB. O ministro apoia o governo. Mas da bancada de 40, a metade está indecisa, 15 defendem o impeachment e cinco são contrários.
Partidos divididos e sem unidade e negociações individuais na guerra de corpo a corpo, o primeiro ingrediente desta equação é a perspectiva de sobrevivência pessoal e política. A pergunta que não se cala na cabeça dos parlamentares se volta para os rumos imprevisíveis da Operação Lava-Jato, que sinaliza para uma política de “terra arrasada”, com a liberação esta semana de listas de distribuição de recursos pela Odebrecht envolvendo mais de 200 políticos, de todos os partidos, da situação e da oposição. Que tipo de novas frentes essa lista anuncia, não há como prever. Além disso, as ruas gritam. Críticos exigindo a cabeça da presidente de um lado. Apoiadores acusando o golpe de outro. A decisão está judicializada, nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), órgão com o qual disputam as manchetes hoje a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Justiça Federal em primeira instância.
Pressão no Sudeste, Sul e Centro-Oeste
As bancadas do Espírito Santo, Distrito Federal, Santa Catarina, Goiás e São Paulo, estados governados nesse ordem por Paulo Hartung (PMDB), Rodrigo Rollemberg (PSB), Raimundo Colombo (PSD), Marconi Perillo (PSDB) e Geraldo Alckmin (PSDB), são as mais hostis ao governo Dilma Rousseff, alcançando mais de 70% de deputados federais que se declaram favoráveis ao impeachment.
Contrariamente, a menor adesão ao impeachment se verifica em estados do Norte e Nordeste como Amapá, Tocantins, Maranhão, Sergipe, Paraíba, Roraima, Acre, Piauí, Bahia, Ceará e Alagoas. Nessa ordem, são administrados por Waldez (PDT), Marcelo Miranda (PMDB), Flávio Dino (PCdoB), Jackson Barreto (PMDB), Ricardo Coutinho (PSB), Suely Campos (PP), Tião Viana (PT), Welington Dias (PT) e Rui Costa (PT).
Em Minas Gerais, dos 53 deputados federais, 27 se declaram favoráveis ao impedimento, 17 estão indecisos e nove contrários – que são os parlamentares do PT e do PCdoB. Da bancada federal mineira agora de seis parlamentares do PMDB, quatro ainda não se posicionaram: Newton Cardoso Junior, Rodrigo Pacheco, Saraiva Felipe e Silas Brasileiro; Leonardo Quintão e o novo integrante, Fábio Ramalho, dizem apoiar o afastamento de Dilma. Outros partidos que estão igualmente na base de Fernando Pimentel em Minas, também estão em cima do muro: no PR, Aelton Freitas e Brunny; no PSD, Diego Anrade e Jaime Martins; no PTdoB, Luis Tibé; e no PTN, Ademir Camilo. (BM)