Brasília - Animados com o apoio do PMDB do Rio e na expectativa da adesão de outros diretórios, os aliados do vice-presidente Michel Temer acreditam ser capazes não só de emplacar o rompimento do partido com o governo Dilma Rousseff como de construir unidade na reunião do diretório nacional, marcada para esta terça-feira, 29.
A tendência é de que os peemedebistas aprovem a entrega de cargos à presidente, a começar pelos sete ministérios que a sigla comanda.
Temer chegou domingo à noite a Brasília para uma série de reuniões em que tentará eliminar os focos de resistência governista. Para o vice-presidente, alcançar a unanimidade na reunião do diretório é importante como um sinal de que o PMDB está unido em torno dele e de seu eventual governo - o Planalto aposta na divisão do partido para barrar o processo de impeachment na Câmara.
Temer cogita, inclusive, presidir o encontro se sentir que pode transformá-lo num ato político a favor de sua chegada ao comando do país.
Para evitar o constrangimento de uma derrota acachapante, integrantes de diretórios governistas devem faltar à reunião. É o caso dos cinco representantes do PMDB paraense. O diretório é dominado pelo senador Jader Barbalho (PA), cujo filho, Helder, é ministro da Secretaria de Portos.
Na semana passada, Jader tentou, sem sucesso, convencer Temer a adiar a reunião do diretório para 12 de abril. Governistas querem tentar ao menos adiar a entrega dos cargos para esta data.
Conversas
O primeiro nome da lista de conversas que Temer pretende ter hoje é o do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Quer convencê-lo a apoiar o rompimento imediato. No entanto, aliados do senador dizem acreditar que um acerto seria "muito difícil".
Até o fim da semana passada, Renan e demais setores da ala governista do PMDB preferiam ver "o governo cair de podre".
Temer também deve reunir-se com o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia), outro peemedebista que considera "precipitado" o rompimento imediato.
Interlocutores do vice acreditam que os ministros que hoje resistem a abrir mão dos cargos mudarão de postura.
Um aliado de Temer observa que, sem representar um partido, os ministros deixariam de ser úteis ao governo, pois teriam pouco poder de atrair votos na Câmara contra o impeachment.
Para o senador Romero Jucá (PMDB-RO), o Planalto mostrou não querer "membro do PMDB no governo" quando demitiu o presidente Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Antônio Henrique Pires, indicado por Temer. A exoneração, na quinta-feira, foi vista como retaliação pela tendência de rompimento do partido - o governo nega.
Discurso
A defesa da unidade em torno da decisão a ser tomada amanhã tem sido feita por diversos peemedebistas. "O ideal é que fosse por unanimidade. Vamos buscar isso até o último momento", afirmou Jucá, que tem trânsito nas alas contra e a favor do rompimento.
Integrantes do núcleo duro de Temer apostam que a decisão de desembarque adotada pelo diretório do PMDB fluminense na quinta-feira contaminará outros Estados.
Ao menos dez dos 12 votos da seção do Rio devem ser a favor do rompimento. O gesto ganha ainda mais força por Jorge Picciani, presidente do PMDB-RJ, ser pai do deputado Leonardo Picciani, líder da bancada na Câmara e até então principal defensor da aliança com Dilma. Leonardo não se manifestou.
Segundo maior diretório do partido, o PMDB-MG também pode oficializar apoio ao desembarque do governo. Presidente da seção mineira, o vice-governador Antonio Andrade já avisou a integrantes da ala governista não ter condições de garantir o apoio dos outros 10 integrantes mineiros do diretório nacional.
Há duas semanas, o governo nomeou o deputado Mauro Lopes (MG) ministro da Secretaria de Aviação Civil. "O ministério foi dado contemplando o Mauro. Não vai influenciar a nossa decisão", disse Andrade . Os mineiros conversarão hoje, mas só devem oficializar a decisão amanhã.
O vice-governador afirmou querer sair da reunião com uma decisão unânime. "Vamos discutir até ver se conseguimos chegar a um consenso e a minoria seguir a maioria." .