Nesta terça-feira, 29, num raro movimento de união na história do partido, o PMDB deve aprovar o rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff. A decisão, que deve ser tomada por aclamação em convenção partidária, pode levar à entrega de sete ministérios e outros 600 cargos na máquina pública federal e tem por objetivo fortalecer o vice-presidente da República e presidente do partido, Michel Temer, beneficiário direto de um eventual impeachment de Dilma. Henrique Eduardo Alves (RN) nem esperou a convenção e ainda ontem entregou o cargo de ministro do Turismo.
Kátia Abreu tentou adotar um tom democrático durante a entrevista. Disse que impeachment existe na Constituição e que não é golpe, se feito dentro do que determina a lei. Semelhante ao que tem defendido o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nas últimas semanas, ela argumentou que não há crime de responsabilidade que possa justificar a deposição da presidente e que, se o impeachment for feito baseado com o que há hoje, pode ser classificado de golpe. "Nós, o Brasil, não temos o direito de ser imprudentes com impeachment", afirmou.
Ela admitiu, ainda, que a presidente cometeu erros na economia, que há raiva contra o Partido dos Trabalhadores (PT), mas pediu que as coisas sejam avaliadas de maneira técnica. "O governo errou na economia? A presidente é impopular? As pessoas estão com raiva do PT?", questionou, para ela mesma responder em seguida. "Isso é fato", disse. A ministra também fez críticas ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao peso que se tem dado às pedaladas. "Como já escreveu o ex-ministro Delfim Netto, pedaladas se praticam desde Dom João VI no Brasil. Isso não é suficiente para se tirar a presidente", defendeu.
A ministra argumentou que, diante do histórico de pedaladas de outros presidentes, que gostaria de que O TCU não usasse dois pesos e duas medidas. "A lei não pode retroagir para prejudicar, como o TCU, tendo aprovado contas de presidentes que pedalaram, não pôde aprovar as dela?", questionou. Para ela, não interessa o tamanho da pedalada, se é crime para um, tem de ser para todos os outros. "Eu não vejo e não encontro nenhuma desonestidade que possa levar ao impeachment da presidente Dilma Rousseff", garantiu.
Para ela, mesmo a saída da presidente, os problemas econômicos não vão se resolver, muita coisa precisa ser feita. Ela salientou que o impeachment não é a solução. Kátia Abreu observou que conversa com a presidente todos os dias e que ela está confiante no Judiciário e no Congresso que, quando fizerem a análise do processo, vão entender que não há crime ou motivos para impeachment. "Parte dos que querem minha permanência no governo, sabem que recebi carta branca para tocar as políticas necessárias para o setor, para propor medidas. Estamos revolucionando o ministério", afirmou.
Ela comentou que o objetivo é deixar um legado de transparência e eficiência e que foi somente com o apoio da presidente Dilma Rousseff que ela conseguiu enfrentar grandes corporações e tornar o Ministério da Agricultura uma Pasta acessível a todos os produtores, independentemente do tamanho deles. "Ministério da Agricultura não é lugar de preferidos, de amigos, é para todos do setor. Antes os pequenos não tinham condições de exportar, hoje é um direito de todos", afirmou.
Apesar de a ministra não cravar sua permanência no governo, as indicações de suas falas nas últimas semanas têm sugerido que ela deve permanecer ao lado da presidente Dilma Rousseff até o fim. As duas teriam se tornado amigas durante o primeiro mandato, laço que foi fortalecido no segundo. Outros integrantes do PMDB também têm dado indicações de que não devem deixar o governo.
Ainda nesta terça-feira, após conversar com os ministros do PMDB que são deputados, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), disse que teve a "impressão" de que Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência, Tecnologia e Inovação) devem continuar nos cargos..