"Por enquanto, esse é um problema político doméstico. Mas o Brasil é um País muito importante e qualquer instabilidade política no Brasil é uma preocupação social para nós", disse Ban, em Genebra.
O coreano fez um apelo, o primeiro em relação ao Brasil em quase dez anos de seu comando da ONU e uma atitude rara nos contatos das Nações Unidas com o País. "Peço que os líderes adotem soluções harmoniosas e tranquilas", declarou. Sei que é um desafio que o País vive. Mas acho que vão conseguir superar ", disse.
Ban, que por anos apostou no Brasil e em outros governos emergentes para fortalecer o sistema multilateral, agora rompe seu silêncio e alerta para a crise.
Na cúpula da entidade, a preocupação é de que o impasse político no Brasil possa contaminar outros governos da região onde processos democráticos ainda frágeis poderiam ser minados.
No início de março, o secretário de Direitos Humanos, Rogério Sottili, afirmou que, em encontros com a ONU em Genebra, chegou a falar sobre a crise vivida pelo País. Seu tom foi, acima de tudo, o de mostrar que a questão de direitos humanos está ligada com o clima que vive o País." Eu não poderia ignorar a situação que o Brasil vive hoje", disse.
Ao falar com jornalistas brasileiros na ocasião, Sottili ensaiou uma crítica à imprensa, dizendo que a ONU parece saber "mais do Brasil que muitos brasileiros". "Acho que aqui a informação chega de forma mais qualificada", ironizou.
Na entidade, porém, o recado é tanto para a oposição quanto para o governo.
"Estamos preocupados com a possibilidade de que um círculo vicioso possa estar sendo desenvolvido que acabe afetando a credibilidade tanto do Executivo como do Judiciário", disse Rupert Colville, porta-voz da ONU.
Nesse inédito posicionamento da organização sobre a crise política brasileira, a entidade faz cobranças a todos os agentes protagonistas da atual situação ao se dizer "preocupada com os debates cada vez mais politizados e acalorados" registrados nas últimas semanas no País.
Para o Alto Comissariado, essa situação ameaça causar "um sério dano de longo prazo para o Estado e para as conquistas democráticas feitas nos últimos 20 anos nos quais o Brasil tem sido governado sob uma Constituição que dá fortes garantias de direitos humanos"..