PMDB X PT: Do namoro ao divórcio

O PMDB entrou pela primeira vez pela porta da frente no Palácio do Planalto, desde a redemocratização do país, com Dilma Rousseff; sai às vésperas de uma possibilidade de impeachment da presidente, depois de o partido decidir pelo rompimento com o governo nessa terça-feira, e Michel Temer, atual vice-presidente, abandona o barco com a possibilidade de voltar como comandante

Bertha Maakaroun - enviada especial
- Foto: Arte/Janey Silva/EM

Foi com Dilma Rousseff (PT), há pouco mais de seis anos, que o PMDB entrou pela primeira vez, desde a redemocratização do país, pela porta da frente no Palácio do Planalto. Sem lançar candidatura própria à Presidência da República há mais de duas décadas, o PMDB, partido considerado de maior capilaridade no país, nunca deixara o poder: especializou-se em aderir aos governos federais e, com os benefícios inerentes ao exercício do poder, conquistar as maiores bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Num presidencialismo de coalizão, a estratégia teve efeito certeiro: saiu Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entrou Lula (PT), o PMDB continuou a navegar nos postos.

Mas a adesão desse aliado, que embora presente em todos os governos, nunca esteve inteiro em nenhum, é aquela das boas horas. Apoiou abertamente os dois governos de Lula, com altos índices de popularidade. Mas, no primeiro mandato de Dilma, enquanto a presidente gozava de relativa estabilidade política, Temer se manteve discreto; a lua de mel se encerrou rapidamente após o pleito presidencial mais duro da história. A Operação Lava-Jato – que envolve também o alto escalão do PMDB –, que aprofundou a crise econômica e política, teve efeito certeiro sobre uma presidente acuada, sem habilidade para a articulação política. À medida em que nos cálculos de Michel Temer a probabilidade do impeachment ser aprovado crescia, o vice começou a dar sinais claros de que abandonaria o barco petista para articular com a oposição, uma nova possibilidade: a Presidência da República.

Eleições 2002

O PMDB, que havia sido um dos alicerces do governo Fernando Henrique Cardoso no ministério e no Congresso, seguiu formalmente para o barco tucano, depois de escantear a prometida candidatura própria pretendida pelo governador de Minas, Itamar Franco, então na legenda. Mas a chapa José Serra (PSDB) e Rita Camata (PMDB) foi derrotada pela aliança capital-trabalho, encabeçada por Lula (PT) e José Alencar (PRB).
Sempre rachado, alguns integrantes do partido apoiaram Lula já no primeiro turno

Governo Lula (2003-2006)

Cinco meses após a posse de Lula iniciaram-se as conversas com o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, para o embarque da legenda na base do governo. A partir de 2004, chegam os dois primeiros ministros. Em 2005, a legenda ficou com quatro pastas e, em julho de 2006, ganhou a presidência e três diretorias dos Correios, à época estatal com 110 mil funcionários e faturamento de R$ 9 bilhões ao ano.

Eleições 2006

Embora o PMDB não tenha formalizado participação na coligação que reelegeu Lula, 80% dos diretórios regionais do partido ficaram com o petista e Michel Temer anunciou apoio formal ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que foi derrotado.

Governo Lula (2007-2010)

No segundo governo Lula, o PMDB formalizou a participação, integrando o chamado Ministério da Coalizão, negociado diretamente com Michel Temer, que, após aderir à candidatura ao Planalto do tucano Geraldo Alckmin, optou por apoiar a eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara dos Deputados. Ganha seis ministérios e passa a comandar orçamento superior a R$ 100 bilhões.

Eleições 2010

Após deixar o governo com alta popularidade, Lula articula a aliança PT com o PMDB, formalizada na chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB). Do outro lado do balcão, Temer, dessa vez, disputa contra e ajuda a derrotar o ex-aliado tucano José Serra.

Governo (2011-2014)

Foi a primeira vez desde que as eleições diretas para a Presidência da República foram retomadas em 1989 que o PMDB entrou no governo pela porta da frente, tornando-se o principal aliado de Dilma Roussseff. Maior bancada no Senado e a segunda maior na Câmara, o PMDB manteve a presidência do Senado por todo o período e a da Câmara entre 2013 e 2015.

Eleições 2014

Dilma Rousseff e Michel Temer se reelegem na mais dura e apertada disputa eleitoral da história recente do país – com uma diferença sobre o candidato tucano Aécio Neves (MG) de 3,4 milhões de votos. O país saiu dividido das urnas.

Janeiro 2015

Dilma Rousseff e Michel Temer começam o novo governo com desafios frente a uma economia cambaleante e em meio à crise alavancada pela Operação Lava-Jato na maior empresa estatal do país, a Petrobras.

Fevereiro 2015

Na Câmara dos Deputados, o PMDB elege para a presidência da Casa o maior desafeto do governo, Eduardo Cunha (RJ). No Senado, é eleito o aliado Renan Calheiros (PMDB-AL).

Julho 2015

A tese do impeachment ainda é minoritária, mas à medida que a impopularidade de Dilma cresce, o PMDB começa a flertar com a oposição e a discutir, nos bastidores, essa possibilidade. Mantém seis ministérios e 600 cargos comissionados.

Setembro 2015

O PMDB leva ao ar o primeiro programa partidário com críticas contundentes ao governo Dilma e, em tom eleitoral, Michel Temer prega: “É preciso alguém para reunificar o país”. Essa tese comandaria as articulações do impeachment e a negociação com a oposição.

Outubro 2015

- O Tribunal de Contas da União (TCU) rejeita as contas de 2014 do governo Dilma Rousseff sob o argumento das chamadas “pedaladas fiscais”. A prática não era propriamente uma novidade na administração pública no Brasil. Mas a condenação chega num momento em que a presidente está enfraquecida e acuada por números negativos na economia.

- Reforma ministerial implementada por Dilma Rousseff amplia o espaço do PMDB no governo, subindo de seis para sete ministérios.

Dezembro 2015

- O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceita o pedido de impeachment protocolado na Casa contra a presidente Dilma Rousseff pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal sob argumento de um suposto crime de responsabilidade contra a lei orçamentária.

- Eliseu Padilha, da Aviação Civil, próximo a Temer, deixa o governo alegando desentendimentos em relação à indicação, que foi barrada, feita por ele de um técnico para o comando da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O que o moveu, de fato, foi a decisão de Temer de não se posicionar contra o impeachment, o que gerou constrangimento no governo.

- Buscando um pretexto para a ruptura, o presidente nacional do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, enviou uma carta a Dilma apontando episódios que, segundo ele, demonstrariam a “desconfiança” do governo em relação a ele e ao PMDB.

Fevereiro 2016

Percebendo as condições para tomar o poder, o PMDB volta a levar ao ar propaganda partidária recheada de críticas à gestão de Dilma, apontando um cenário desolador, procurando se afastar dos “erros” do governo do qual participa mas não assume responsabilidade.

Março 2016

- Há 15 anos à frente do PMDB, Michel Temer, foi reconduzido ao cargo para os próximos dois anos em convenção realizada em Brasília, quando aos gritos de “Temer presidente” e “Fora Dilma”, a legenda, que articula e calcula o aumento da probabilidade de aprovar o impeachment, anuncia que em 30 dias entregaria todos os cargos no governo.

- O novo ministro da Aviação Civil, Mauro Lopes (MG), desafia a convenção nacional do PMDB e toma posse, irritando Michel Temer e a cúpula do PMDB, que já armava o desembarque do governo. PMDB fica com sete ministérios. Os dirigentes antecipam para o dia 29 a reunião do Diretório Nacional para homologar a decisão de deixar o governo Dilma.

- Ligado a Michel Temer, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, que estava no cargo desde 16 de abril de 2015, entregou no dia 28 a carta de demissão, se antecipando ao desembarque oficial da legenda. Investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente ter se beneficiado do esquema de corrupção que atuava na Petrobras identificado pela Operação Lava-Jato, perde momentaneamente o foro privilegiado, mas tem expectativa de retomá-lo em eventual governo Temer.

29 de março

Dando como certos os votos no Congresso Nacional para afastar Dilma Rousseff, o PMDB deixa o governo na expectativa de retomá-lo, em alguns meses, desta vez, na cadeira de presidente.

.