PP fica na base do governo com voto liberado para impeachment

Por cargos, partido decide permanecer na base de Dilma, mesmo contrariando parte de seus parlamentares, que poderão se manifestar a favor do impeachment da presidente

Paulo de Tarso Lyra Júlia Chaib
Ciro Nogueira negou que a decisão do partido tenha sido tomada em troca de ampliação de espaço no governo - Foto: Moreira Mariz/Agência Senado - 26/3/14

Brasília – Legenda que será a maior beneficiada caso a presidente Dilma Rousseff sobreviva ao processo de impeachment, o PP resolveu, contrariando parte da bancada de deputados e senadores – que deverá votar a favor do impedimento da petista –, permanecer na base de apoio do governo, mas sem negociar cargos neste momento. As sinalizações, contudo, são tentadoras: Ministério da Saúde; a manutenção da Integração Nacional, acrescidos do Departamento Nacional de Obras contra a Seca; Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e diretorias do Banco do Nordeste.

O grande ganho atual será a presidência da Caixa Econômica Federal. O banco administra o pagamento do Bolsa-Família, os subsídios do Minha Casa, Minha Vida, os financiamentos imobiliários e os recursos do FGTS. Tantos atrativos justificam a cautela do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), após cancelar uma reunião de deputados e senadores para discutir os rumos da legenda. A Executiva do PP deve se encontrar no dia 12.

“Nós não vamos mais discutir rompimento com o governo até a votação na Câmara”, disse Nogueira. O presidente reconheceu que, hoje, o partido está dividido quanto ao apoio ao Planalto. Mas, de acordo com Nogueira, um levantamento interno mostrou que, de 57 votantes da Executiva do partido, mais de 40 queriam ficar.

Nogueira nega que a decisão tenha a ver com a “repactuação” do governo para acomodar aliados no ministério.
“Não vamos negociar nem assumir nenhum cargo até a votação do impeachment”, desconversou. “Não deixamos a menor margem para esse tipo de discussão”, afirmou.

Dos 49 deputados do PP, estima-se que Ciro Nogueira consiga manter fiéis ao Planalto, com certeza, entre 12 a 13. Outros 14 são renitentemente contrários ao governo, incluindo as alas gaúcha, catarinense, parte do diretório do Rio de Janeiro e alguns parlamentares da Região Norte. No Rio, apesar da resistência empedernida do deputado Júlio Lopes, existe uma preocupação de como o governador interino, Francisco Dornelles, conseguirá conduzir o estado diante das dificuldades financeiras. Ele assumiu após a licença do governador Luiz Fernando Pezão. “Não vou negar que o partido tem uma grande parcela que vota pelo impeachment e tem que respeitar essas pessoas. Mas a orientação do seu presidente, do seu líder, é estar ao lado da presidente nesse momento”, concluiu.

No Nordeste, área mais beneficiada pelos cargos em oferta, um cacique partidário admite ser difícil o apoio ao impeachment. “A gente anda pelo interior e o que mais ouve são os pedidos: ‘não abandone o Lula’”, disse um deputado, brincando que ninguém pensa na presidente.

Comemoração O ministro do gabinete pessoal de Dilma, Jaques Wagner, comemorou a decisão do PP de continuar na base de apoio ao governo. Para Jaques, a permanência do partido mostra que o desembarque do PMDB foi "frustrado", por não “puxar” a saída de outras legendas. O ministro disse que o PP deve ampliar seu espaço no governo, assumindo novos ministérios, mas não quis informar quais. Ele também afirmou que é normal, num governo de coalizão, que quando um partido sai da base, outros ocupem os espaços deixados.

O ministro também falou sobre a proposta do senador Valdir Raupp (PMDB) de realização de eleições gerais em outubro. Para ele, a proposta é “menos agressiva” que o impeachment e mostra que o processo “caiu por terra”. “Olho para a proposta muito mais como uma tentativa daqueles que querem uma repactuação nacional entenderem que definitivamente esse processo (de impeachment) já caiu por terra, ele não representa a legalidade, legitimidade, nem nada”, disse.

Enquanto isso...

...Postos para atrair apoio


A presidente Dilma Rousseff está utilizando os cargos de segundo e terceiro escalões para atrair os partidos da base, como PTB, PP e Pros, e assim tentar apoio na votação do processo de impeachment.
Desde a semana passada, o Diário Oficial da União publica uma dança de cadeira nesses escalões, com a exoneração de nomes ligados ao PMDB de Michel Temer e de Henrique Eduardo Alves – o único ministro do PMDB que pediu demissão e deixou o Turismo. Ontem, Dilma nomeou o ex-ministro do Turismo Gastão Vieira para ser presidente do cobiçado Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) no lugar de Antônio Idilvan de Lima Alencar. Gastão estava no PMDB desde sua formação e era ministro de confiança de Dilma, mas deixou o PMDB e assumiu o comando do Pros no Maranhão.
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