As olimpíadas do impeachment
“O clima de quanto pior, melhor não interessa ao país. Não interessa à necessária estabilidade econômica e política do país.” A frase é da presidente Dilma Rousseff (PT) ao discursar na cerimônia de inauguração do estádio de esportes aquáticos do parque olímpico da Barra, no Rio de Janeiro. Como a frase não guarda nenhuma relação com a prática esportiva, é provável que Dilma, com informações privilegiadas, estivesse se referindo à pesquisa do Instituto DataFolha no Congresso sobre o seu pedido de impeachment.
“A necessária estabilidade econômica”, a presidente Dilma nem precisava citar. O Brasil é completamente estável, completamente parado, com índices medíocres de crescimento. E com o impeachment em curso, o Ministério da Fazenda, contrariando conselhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adiou sine die o pacote de medidas de estímulo à economia. “Guarda aí na gaveta”, deve ter dito o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
Já “a estabilidade política do país” coloca o seu mandato na berlinda, com direito a fazer a Câmara dos Deputados trabalhar no fim de semana para apressar a contagem do prazo para o seu pedido de impeachment. E Dilma já deveria conhecer o teor da pesquisa: nada menos que 60% dos entrevistados disseram ser favoráveis ao impeachment, enquanto 21% declararam ser contrários. Nem todos os parlamentares foram ouvidos, mas a amostra de 291 deputados e de 68 senadores é significativa. A Câmara tem 513 parlamentares, o Senado, 81.
Sempre se referindo às Olimpíadas, a presidente Dilma soltou outra frase sintomática: “Para isso, um elemento é fundamental: o elemento da convergência, do diálogo, da parceria. Daí eu digo: este é um momento especial, um símbolo e um exemplo para o Brasil do que é possível fazer quando pessoas de bem se unem”.
Convergência, diálogo, parceria? O que isso tem a ver com obras? Com estádio? O jogo é político, promete muitas caneladas e vai dar um baita trabalho para os juízes.
Mal-estar
Apesar de o deputado Rogério Correia (PT) insistir em tentar colher os louros pela aprovação do projeto que concedeu reajuste salarial aos professores da rede estadual, ao que tudo indica o petista foi muito mais um freio do que um acelerador. As trapalhadas foram tantas que o líder da Maioria, deputado Vanderlei Miranda (PMDB), admitiu que as atitudes do líder do bloco de situação criaram mal-estare ntre os colegas governistas e confirmou que o PMDB chegou a pedir a saída de Rogério da liderança, afirmando que ele “não o representa”.
Virou alvo
No plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), durante a votação em segundo turno do Projeto de Lei 3.396/16, na quinta-feira,vários deputados que utilizaram a tribuna fizeram críticas veladas – e algumas bem diretas – ao petista. E o presidente da Casa, deputado Adalclever Lopes (PMDB), fez questão de ressaltar o papel decisivo da liderança do bloco de oposição para aprovação do projeto. É, dessa vez Rogério Correia não figurou como protagonista, mas segue dizendo que sim.
Animal político
No círculo palaciano e mesmo fora dele mais próximo da presidente Dilma Rousseff cresce, a cada dia, a suspeita de que os movimentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar cabalar votos contra o impeachment mais atrapalham que ajudam. Os ministros e assessores acreditam que a influência de Lula entre os indecisos não tem mais o peso de antigamente e que os votos que ele garante já iriam ser favoráveis a Dilma mesmo. É, pode ser, mas é bom não menosprezar o animal político que Lula é.
Voz do leitor
Escreve, de novo, Kleber Pereira Gonçalves: “Caro Baptista, penso que a interatividade que proporciona em sua coluna a enriqueceu, dando voz ao leitor. Vamos lá, quanta diferença entre a Islândia e o Brasil... Lá o premiê renunciou poucos dias após a denúncia do chamado Panama Papers de que mantinha, com a esposa, uma offshore. Aqui, vivemos algo surreal, a presidente se recusa a ter um gesto de grandeza e renunciar. Mais vergonhoso é o ex-presidente Luiz Inácio ter montado sua banca de compra de votos ou ausências de deputados picaretas, pois sabe que naufragará abraçado a ela”.
Quem diria?
O PSDB declarou apoio oficial ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Bem, antes tarde do que nunca. O anúncio foi feito em encontro que reuniu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (MG), os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, do Paraná, Beto Richa; e do Mato Grosso, Pedro Taques, além de parlamentares. Calma, gente! O senador José Serra (PSDB-SP) não deu o bolo, também estava presente.
PINGAFOGO
Então está tudo resolvido. A culpa é do triplex. Ou melhor, do zelador que depôs sobre as idas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pois é, foi demitido. Pagou o pato.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se cuide. Apesar de todas as manobras, ele tem tudo para ser a próxima vítima de um “impeachment”.
Ah! E para não dizer que deixei de falar das flores. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também pode pôr as barbas de molho. Corre risco de ser a outra próxima vítima.
Manchete no site em.com.br ontem de manhã. “Trabalhar no fim de semana gera impasse na comissão do impeachment”. E o complemento: A discórdia está na interpretação do Regimento Interno da Câmara e o rito do impeachment definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Só faltava essa. É um grande desrespeito aos brasileiros que são obrigados a trabalhar aos domingos. E olha que a maioria dos deputados só trabalha nas quartas, quintas e sextas-feiras. Devem ficar exaustos!
E assim termina a semana, com os deputados trabalhando no sábado e no domingo. É cena inesquecível na política nacional.