Entre as principais legendas que compõem a comissão, o Partido da República (PR) foi o único em que nenhum representante discursou. Assim como PP e PSD, o PR tem negociado com o Palácio do Planalto mais espaço no governo em troca de apoio da bancada contra o impeachment. Tanto no PP quanto no PSD, apenas dois deputados discursam na sessão, todos a favor do afastamento da presidente Dilma Rousseff.
A sessão começou por volta das 15h30 de sexta-feira, mas os discursos de fato só iniciaram cerca de uma hora depois. Governistas e oposicionistas se alternaram em suas falas contra e a favor do impeachment. Governo e oposição acabaram deixando em segundo plano o teor do parecer do relator, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), favorável ao impeachment, e focaram seus discursos nas críticas um ao outro.
Governistas ressaltaram que partidos da oposição também são acusados de corrupção e acusaram opositores de não aceitar perder as últimas eleições e querem tirar Dilma por meio de um "golpe".
Já a oposição centrou suas críticas em outras acusações e suspeitas contra o governo Dilma, algumas alheias ao parecer de Arantes, bem como contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT. Opositores apostaram também na estratégia de dizer que aqueles que votarem contra o impeachment estarão concordando com os crimes de responsabilidade a que a petista é acusada na representação.
Tumultos
Durante toda a sessão, houve princípio de tumulto em apenas dois momentos. O primeiro foi quando, seguindo a linha adotada por governistas, o deputado Pepe Vargas (PT-RS) afirmou que PSDB e DEM são os partidos com maior número de políticos cassados no País. O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), e o deputado Mendonça Filho (PE) reagiram com gritos de "mentira".
O segundo bate-boca mais acalorado aconteceu durante o discurso do deputado Sílvio Costa (PT do B-PE), vice-líder do governo na Câmara. O parlamentar ironizou o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) pelo fato de ele ser pastor evangélico e chamou o deputado Danilo Forte (PSB-CE) de "merda", "corrupto" e "imbecil", o que gerou a reação imediata de parlamentares pró-impeachment.
Cansaço
O cansaço era visível nos rostos de deputados, assessores e jornalistas que participavam da sessão da comissão. Para amenizar a situação, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) distribuiu energéticos para funcionários que estavam trabalhando que se somou ao cafezinho servido pela Câmara. O presidente da comissão, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), também mandou fazer sanduíches de pão francês e queijo para distribuir.
Do lado de fora do plenário, manifestantes contrários ao impeachment distribuíam pão com mortadela. Diante da polarização política no País, convencionou-se relacionar mortadela aos apoiadores do governo e coxinha aos defensores do impeachment. Os sanduíches foram oferecidos tanto aos parlamentares governistas, que levaram o lanche para o plenário, quanto para os oposicionistas.
Para tentar evitar que o plenário não ficasse esvaziado durante a sessão, os parlamentares se revezavam, principalmente os da oposição. Por volta das 2 horas deste sábado, houve um momento em que havia somente um parlamentar governista, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Alguns deputados só chegaram na hora de falar e deixavam após o discurso, indo para casa ou reunir-se em restaurantes com colegas.
Fogo amigo
Durante os discursos, o governo recebeu críticas até de deputados aliados do Palácio do Planalto. Embora tenha dito ter convicção de que a presidente Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade que justifique seu afastamento, o líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ), fez uma dura crítica à petista durante seu discurso, feito já na madrugada deste sábado.
Picciani afirmou que o Brasil chegou a atual situação, "porque quem ganhou a eleição não teve a humildade de reconhecer que ganhou uma eleição dividida e chamar o País a uma reconciliação e quem perdeu não teve a resignação de aceitar o resultado e pensar no País; preferiu contestar e pensar apenas na sua ambição política". "Essa página, sim, seja qual for o resultado, tem que ser virada", disse.
Votação
A discussão do parecer será retomada na segunda-feira, 11.