Sessão da comissão especial do impeachment se arrastou por 13 horas

Maratona tumultuada com trocas de ofensas, energéticos, café e até pão com mortadela para superar o cansaço

Guilherme Waltenberg
Para superar o cansaço durante a longa sessão, muito café e distribuição de sanduíches para os parlamentares e manifestantes - Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO CONTEÚDO
Brasília – Após mais de 13 horas de sessão, a comissão especial do impeachment na Câmara dos Deputados encerrou às 4h42 de ontem a primeira fase da discussão do parecer favorável ao impedimento da presidente Dilma Rousseff. Ao todo, discursaram 61 dos 116 deputados que haviam se inscrito para falar. Entre eles, 40 se posicionaram a favor e 20 contra o impeachment. Houve ainda um indeciso: o deputado Bebeto (PSB-BA). Entre as principais legendas que compõem a comissão, o Partido da República (PR) foi o único em que nenhum representante discursou. Assim como PP e PSD, o PR tem negociado com o Palácio do Planalto mais espaço no governo em troca de apoio da bancada contra o impeachment. Tanto no PP quanto no PSD, apenas dois deputados discursam na sessão, todos a favor do afastamento da presidente.

A discussão em torno do parecer do impeachment será retomado amanhã, a partir das 10h. Nessa etapa, discursarão apenas os líderes partidários e o defensor do governo, José Eduardo Cardozo, ministro-chefe da AGU (Advocacia Geral da União).
Segundo aliados do ministro, ele voltará a pedir a anulação do processo. A votação será feita na sequência, perto das 16h, com expectativa tanto de aliados do governo quanto da oposição de aprovação do parecer pró-impedimento.

A maratona entre sexta-feira e a madrugada de sábado começou por volta das 15h30, mas os discursos de fato só se iniciaram cerca de uma hora depois. Governistas e oposicionistas se alternaram em suas falas contra e a favor do impeachment. Governo e oposição acabaram deixando em segundo plano o teor do parecer do relator, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), favorável ao impeachment, e focaram seus discursos nas críticas um ao outro. O presidente da Comissão Especial, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), comparou este momento da análise com o ocorrido no processo de impedimento do ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Na época, foram apenas três sessões, até agora já tivemos 12”, destacou.

Governistas ressaltaram que partidos da oposição também são acusados de corrupção e acusaram opositores de não aceitar perder as últimas eleições e querem tirar Dilma por meio de um “golpe”. Focaram ainda na estratégia de lembrar que a linha de sucessão presidencial é integrada por membros investigados por corrupção, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo na linha de sucessão.

A oposição centrou suas críticas em outras acusações e suspeitas contra o governo Dilma, algumas alheias ao parecer de Arantes, bem como contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT. Opositores apostaram também na estratégia de dizer que aqueles que votarem contra o impeachment estarão concordando com os crimes de responsabilidade que a petista é acusada na representação.

BATE-BOCA Durante a sessão, houve princípio de tumulto em dois momentos. O primeiro foi quando, seguindo a linha adotada por governistas, o deputado Pepe Vargas (PT-RS) afirmou que PSDB e DEM são os partidos com maior número de políticos cassados no país. O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), e o deputado Mendonça Filho (PE) reagiram com gritos de “mentira”. O segundo bate-boca mais acalorado ocorreu durante o discurso do deputado Sílvio Costa (PT do B-PE), vice-líder do governo na Câmara. O parlamentar ironizou o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) pelo fato de ele ser pastor evangélico e chamou o deputado Danilo Forte (PSB-CE) de “corrupto” e “imbecil”, o que gerou a reação imediata de parlamentares pró-impeachment.

O cansaço era visível no rosto de deputados, assessores e jornalistas que participavam da sessão da comissão. Para amenizar a situação, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) distribuiu energéticos para funcionários que estavam trabalhando, que se somou ao cafezinho servido pela Câmara.
O presidente da comissão, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), também mandou fazer sanduíches de pão francês e queijo para distribuir.

Um grupo de manifestantes aliado ao governo fez um piquenique do lado de fora da comissão e distribuiu pão com mortadela como resposta ao apelido que a oposição deu aos manifestantes que protestam em favor de Dilma. Houve até deputados favoráveis ao impeachment lanchando com eles e foram bem recebidos. Rosso também pediu que levassem lanches aos presentes. Ele, no entanto, optou pela neutralidade: foi pão com queijo e manteiga.

Por volta das 2h, houve um momento em que havia somente um parlamentar governista, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Alguns deputados só chegaram na hora de falar e deixavam a sessão após o discurso, indo para casa ou reunindo-se em restaurantes com colegas. (Com agências).