As três legendas conseguiram mais recursos que o PMDB, maior bancada da Câmara, e o PSDB, principal legenda da oposição. Em números brutos, o PMDB, que desembarcou do governo há quase duas semanas — embora seis dos sete ministros estejam entrincheirados nos respectivos cargos —, arrecadou R$ 10,8 milhões. Já o PSDB conseguiu R$ 8,43 milhões. Os três novos queridinhos do governo só ficam atrás do partido da presidente, o PT, que recebeu R$ 24,97 milhões.
Mas o PP, que sozinho conseguiu R$ 4,15 milhões em restos a pagar, não tem apenas as emendas como mimos. Maior bancada aliada após a saída do PMDB, com 40 deputados, os pepistas devem levar o Ministério da Saúde, com o deputado Ricardo Barros (PR); todos as estatais e autarquias envolvendo o Ministério da Integração Nacional, incluindo o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf).
O PP ainda poderá arrebanhar para seus domínios a Caixa Econômica Federal, que administra os benefícios do Bolsa-Família, os subsídios do Minha casa, minha vida, os financiamentos imobiliários e os recursos do FGTS. Para a vaga, o mais comentado é o deputado Cacá Leão (BA), mas a reportagem apurou que poderia haver uma jogada ousada e arriscada, com a saída do atual ministro da Saúde, Marcelo Castro, do PMDB, para que ele, após um tempo sem legenda, se filiasse ao PP para assumir o banco estatal.
DESAVENÇA O PSol, legenda que há pouco mais de 10 anos nasceu de uma cisão do PT por causa da insatisfação com os rumos tomados pelo partido, acabou voltando à órbita petista na defesa contra o impeachment. A legenda recebeu R$ 4,65 milhões de restos a pagar. A matemática pura mostra que os seis deputados do PSol conseguiram, per capita, R$ 775 mil em restos a pagar. Desempenho semelhante à Rede, presidido por Marina Silva, que defende a convocação de novas eleições. O líder do partido na Câmara, Alessandro Molon (RJ), contudo, teve um duro desentendimento por telefone com Marina na semana que passou. Ex-petista, ele é contra o afastamento da presidente.
Legenda que deverá herdar toda a área de transportes do governo federal caso a presidente Dilma sobreviva, o PR garantiu R$ 4,8 milhões em emendas. O partido negocia com o Planalto a manutenção do Ministério dos Transportes, a incorporação de todos as diretorias nacionais e estaduais do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit), além das secretarias de Portos e de Aviação Civil. Condenado no processo do mensalão, o ex-deputado Valdemar Costa Neto tem sido um dos principais interlocutores com o governo e cobra dos correligionários que aceitem as ofertas palacianas.
“Se qualquer partido se sentir lesado e entrar na Justiça por conta das emendas parlamentares, poderá fazê-lo. Após a aprovação do orçamento impositivo, o Executivo é obrigado a pagar de maneira equânime”, disse o presidente da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco. Para o diretor de documentação do departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, nada dessas benesses funcionará se o moral da tropa não estiver elevado. “A semana que passou foi péssima para o governo, com a delação da Andrade Gutierrez, o desembarque da bancada evangélica e o recuo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em relação à posse de Lula como chefe da Casa Civil”, resumiu Toninho.
• Proposta de plebiscito
A batalha pelo impeachment ainda está na Câmara, mas, no Senado, já há quem se prepare para os desdobramentos do processo contra Dilma Rousseff. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), estuda proposta de emenda constitucional (PEC) propondo a realização de plebiscito, no primeiro turno das eleições municipais deste ano, para saber se a população defende nova disputa geral. E, no segundo turno, qual seria a extensão: apenas para presidente ou se incluiria governadores, senadores e deputados.