Brasília – Cerca de 80 deputados federais que ainda não se posicionaram em relação à votação da autorização para a abertura do processo de impeachment estão às voltas com cobranças e intensa mobilização da sociedade. São milhares de e-mails, mensagens nos celulares, recados pelas redes sociais, chamadas nos gabinetes e interpelação nos corredores por grupos de pressão.
Mais do que isso, os deputados indecisos estão lidando ainda com dois grandes balcões para a partilha de cargos. De um lado, a base de apoio nesta administração corre atrás de 171 votos, oferecendo os espaços que ficarão vagos na repactuação política caso Dilma Rousssef permaneça. De outro, a oposição, organizada no comitê pró-impeachment e sob o comando do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), joga com a expectativa de vitória e retalha o futuro governo.
“É telefonema na madrugada, é gente falando, pressionando dos dois lados, além dos colegas deputados, que argumentam o tempo todo”, afirma Brunny (PR-MG), que não quer se posicionar. “Alguns deixam mensagens do tipo: 'lembre-se do que aconteceu com aqueles que votaram contra o impeachment do Collor; prepare-se, se quer continuar na política'”, diz ela, reclamando que são sobretudo ligações de eleitores de São Paulo.
O deputado federal Weliton Prado (PMB-MG), que só na Comissão de Impeachment declarou-se favorável ao impedimento de Dilma, de Michel Temer e também à cassação de Eduardo Cunha, réu acusado de corrupção e lavagem de dinheiro por suposto envolvimento no esquema de desvios da Petrobras, admite: “O país está dividido, e aqui, a prática é a mesma dos dois lados. A todo momento recebo ligações e recados oferecendo espaços no governo”. E é fato que muitos dos indecisos negociam dos dois lados à espera da definição do vencedor.
Para parlamentares do PT, do PcdoB, do PSOL, do PSDB, do PPS, do DEM e do SD, posicionados sem chance de abalos, as manifestações de eleitores e grupos de pressão em geral são menores. “Claro que ninguém vai tentar modificar o meu voto”, afirma Roberto Freire (PPS-SP). As manifestações que recebe são de apoio. Também no gabinete do deputado Henrique Fontana (PT-RS), um dos mais combativos na comissão que analisou o pedido de impeachment, os e-mails e telefonemas que chegam, em geral, dão sustentação ao posicionamento do parlamentar.
Mas pelas portas dos gabinetes dos deputados Marco Feliciano (PSC-SP), Espiridião Amin (PP-SC) e Nelson Marchezan (PSDB-SP), as faixas com pedido de impeachment já, distribuídas pelo Movimento Brasil Livre, já são parte da paisagem. No corpo a corpo, os deputados suam a camisa. Reginaldo Lopes (PT-MG) tenta convencer indecisos no PP e no PRB, legendas que já abandonaram a base do governo. “Onde estão os golpistas de 64. Esta é a questão que coloco. Foram todos para a lata de lixo. Ao contrário, quem defendeu a legalidade entrou para a história”, argumenta.
Do outro lado, Domingos Sávio (PSDB-MG), presidente do PSDB de Minas, também gasta longa argumentação com indecisos. “Eu procuro mostrar pra eles que se o impeachment passar terão dificuldades para participar da construção do novo governo. E, por outro lado, se este governo permanecer por seis votos, que esperança será possível manter de que conseguirá melhorar o país?”, desafia ele.
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