Governo aposta no Senado para arquivar impeachment

Avaliação no Palácio do Planalto é que praticamente não há mais chances de derrubar o pedido de impeachment na Câmara

Renan Calheiros garantiu que não tomará qualquer atitude que possa parecer manobra protelatória - Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Brasília – Articuladores do governo no Congresso praticamente jogaram a toalha em relação a impedir a aprovação do impeachment na Câmara, no domingo, e começam a montar a estratégia para o enfrentamento no Senado. O primeiro passo para se ter mínimas chances de êxito é não perder de muito na votação deste fim de semana. Pelos cálculos otimistas, o governo teria, hoje, 150 votos mais ou menos cristalizados, 22 a menos que o mínimo necessário para impedir de pronto o afastamento da presidente.

O esforço de varejo político, comandado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é chegar o mais próximo possível dos 172. “Lula está cansado, mas ainda tenta manter o otimismo para não desanimar a militância”, admitiu um dos interlocutores que estiveram com ele em um hotel de Brasília. Oficialmente, o Planalto afirma que teria entre 189 e 205 votos. Mas essa avaliação já desidratou em relação à última segunda-feira, dia em que o relatório do impeachment foi aprovado na Comissão Especial, quando os cálculos eram de 208 a 215 votos.

Se não houver qualquer mudança no transcurso regimental, o processo de admissibilidade do impeachment de Dilma estaria pronto para ser votado no Senado na primeira semana de maio. A data mais especulada é o dia 4, uma quarta-feira. Alguns petistas ainda apostam que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), possa fazer algum tipo de consulta de ritos ao Supremo Tribunal (STF).
Durante encontro com alguns parlamentares, contudo, Renan garantiu que não tomará qualquer atitude que possa parecer manobra protelatória. O relator tende a ser o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).

Para a admissibilidade ser aprovada, é necessária maioria simples dos votos no Senado (42), algo que o governo não tem. Sendo assim, a tendência, hoje, é que a presidente seja afastada por até 180 dias. O vice-presidente Michel Temer assumiria, portanto, o governo. Começaria, então, a tática de guerrilha do PT e dos movimentos sociais. “Com Dilma afastada, a tendência é de que os movimentos favoráveis ao impeachment deixem as ruas. Nossa tropa, ao contrário, continuará mobilizada”, avisou um cacique petista.

A tática, então, seria reforçar o discurso do golpe, em uma tentativa de inviabilizar a gestão de Michel Temer. “Temer fará um governo fraco, que não dura dois meses. Após uma semana carimbando nele e no presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a pecha de golpistas e traidores conseguimos baixar em sete pontos percentuais o apoio ao impeachment (68% para 61%, segundo a mais recente pesquisa Datafolha)”, lembrou um petista. “Se conseguirmos baixar essa aprovação para menos de 50%, poderemos ter alguma chance”, completou um parlamentar aliado de Dilma.

Outro ponto a ser explorado pelos petistas será as incongruências entre a oposição e um possível governo Temer. A aposta é que o PSDB – especialmente a ala do partido mais ligada ao presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG) – não vá aderir de pronto à gestão peemedebista. Até porque o tucano mais próximo do atual vice-presidente é o senador José Serra (SP), que também alimenta planos de concorrer ao Planalto em 2018. “Vamos dizer que a oposição deu um golpe para nos tirar e não quis dar apoio político ao governo de transição”, disse um senador do PT..