"Achei até estranho", observou Eunício, que foi ministro das Comunicações no governo Lula. Nos bastidores, o comentário é que o petista considera muito difícil, no atual cenário, barrar a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara.
Tudo está sendo feito, porém, para evitar uma derrota humilhante. "Não pode ser um 7 a 1 porque, se for assim, não há chance de segurar no Senado", disse um auxiliar de Dilma, em referência à goleada da Alemanha sobre o Brasil, na Copa do Mundo de 2014.
Eunício é o nome mais cotado para ser, no Senado, o relator do parecer que analisará o pedido de afastamento de Dilma, caso o processo seja mesmo aprovado pela Câmara. Sempre teve bom relacionamento com Lula, mas, nos últimos tempos, está distante.
Em março, o senador disse que, se a situação de Dilma se complicasse, o vice-presidente Michel Temer e o PMDB estavam "preparados" para assumir. Apesar da declaração, Eunício fez coro com Renan e achou "precipitada" a decisão do PMDB de antecipar a reunião do Diretório Nacional para selar o rompimento com o governo, no último dia 29.
Impedido de despachar no Planalto por causa da nomeação suspensa para a chefia da Casa Civil, Lula passou esta quarta-feira, 14, recebendo deputados e dirigentes de partidos da base aliada no hotel Royal Tulip, transformado em Q.G das negociações para derrubar o impeachment.
À tarde, ele conversou novamente com o presidente do PR, Valdemar Costa Neto, que foi condenado no caso do mensalão e chegou a cumprir pena.
Mais da metade da bancada do PR - composta por 40 deputados - ameaça votar a favor do afastamento de Dilma, engrossando a lista dos aliados dissidentes.
Embora avalie a situação de Dilma como "muito complicada", Lula ainda não jogou a toalha. Nos encontros que tem mantido com políticos, ele recorre a uma frase de impacto: "Pense que você será responsabilizado pelo que acontecer neste País".
Os movimentos do ex-presidente, porém, ainda provocam dúvidas até mesmo no Palácio do Planalto.
"Eu fico pensando porque a Dilma incomoda tanto a eles. A Dilma deveria estar incomodando a nós, que não gostamos do pacote de reforma que ela apresentou no final do ano", afirmou o ex-presidente na ocasião. "Nós queremos ajudar a Dilma a mudar, a fazer uma política que possa ter esperança para o nosso povo. Não queremos um ajuste que só faça corte, corte, corte. Não somos tesourinha. Nós queremos um ajuste que faça crescimento, crescimento, crescimento.".