Lima fez um paralelo às leis criadas na Itália depois da Operação Mãos Limpas. "O sistema legislativo na Itália foi alterado para dificultar investigações, tornar mais difícil as prisões e a punição de agentes políticos. Isso, de certa forma, está acontecendo novamente. Ao lado do projeto de lei proposto pelo Ministério Público com as dez medidas contra a corrupção, há uma dezena para manter o status quo", afirmou. Lima participa do seminário "Acordo de Leniência - Lei Anticorrupção", na sede do Tribunal de Contas do Estado, no Centro do Rio.
Ele criticou a medida provisória por não exigir que a empresa apresente seus funcionários responsáveis pela corrupção, nem garantir o ressarcimento integral das quantias desviadas. "Essa MP trouxe inovações que indicam mais uma tentativa de o sistema se recompor e limitar a atividade estatal na busca do combate à corrupção".
O procurador reconheceu que "a lei anterior era vaga, possuía lacunas". "Mas, na atual circunstância, a MP causa imensos prejuízos no combate à corrupção. A medida provisória trouxe instabilidade ainda maior e fica muito difícil para o Ministério Público, na atual configuração, participar das negociações", afirmou.
Lima afirmou que as investigações da Lava-Jato não foram afetadas pela medida porque as empresas "entenderam que a MP trouxe insegurança para elas". "O Ministério Público dificilmente participaria de acordos nos termos da medida e um acordo parcial com os órgãos de controle não seria suficiente", afirmou.
O procurador ressaltou que acordos de leniência não são propostos para "a preservação de empregos ou salvação de empresas", mas são instrumento de combate à corrupção. "Minha preocupação é se o sistema econômico é baseado em corrupção. Se temos um modelo de negócios baseado em corrupção, me pergunto se o desenvolvimento econômico de um País pode ser baseado nesse modelo. Se insistirmos nisso, vou ter que admitir que a corrupção conste da contabilidade paralela das empresas", afirmou Lima - ao rebater críticas de que a Lava-Jato estaria atrapalhando a economia.