Debate na Câmara mostra isolamento do governo

Deputados das maiores bancadas da Câmara se revezaram no plenário fazendo acusações ao governo, enquanto o líder do PT, Afonso Florence (BA), apelava para o voto dos parlamentares indecisos

A primeira sessão dedicada ao debate do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, nesta sexta-feira, 15, mostrou o isolamento do governo, que ao longo do dia, foi defendido quase que apenas pelo seu próprio partido.

Deputados das maiores bancadas da Câmara se revezaram no plenário fazendo acusações ao governo, enquanto o líder do PT, Afonso Florence (BA), apelava para o voto dos parlamentares indecisos.

"Senhoras e senhores parlamentares indecisos publicamente, mas que já decidiram que votarão contra, se absterão ou não comparecerão para se protegerem: Vocês estão do lado certo, como a consciência brasileira está do lado certo", afirmou Florence.

Asim como sustentou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), Florence também afirmou que o PT possui uma lista com 208 deputados contrários ao processo de impeachment. Mesmo com os cálculos positivos dos governistas, Florence fez novo apelo aos indecisos ao fim dos discursos do PT. Desta vez, claramente, pedindo votos.

A sessão começou por volta das 11h e cada partido teve direito a uma hora para participar do debate, dividindo a fala entre seus deputados. Com o plenário esvaziado ao longo do dia, cada grupo de parlamentares falou basicamente para seus próprios correligionários.

O PMDB inaugurou a sessão de discursos com a fala em tom de neutralidade do líder Leonardo Picciani (RJ). O deputado agradeceu a compreensão dos colegas que aceitaram seu voto contrário ao impeachment da presidente, mas confirmou que 90% da bancada votará pelo afastamento de Dilma.

'Farol'

Depois de Picciani, o deputado Lelo Coimbra (ES), ainda pelo PMDB, iniciou uma sucessão de ataques e anúncios de votos pelo impeachment. Peemedebistas parabenizaram o parecer do relator da comissão especial do impeachment, o deputado Jovair Arantes (PDT-GO), e também defenderam o vice-presidente Michel Temer.
O deputado Osmar Serraglio (PR) afirmou que o vice não confabulou contra a presidente, mas que se destacou naturalmente. A deputada Soraya Santos (RJ) disse que Temer é o "farol e a esperança" do Brasil.

Aém do PMDB, também subiram ao púlpito para discursar pelo partido, até o início da noite de ontem deputados do PSDB, PP, PR e PSD. Praticamente todos defenderam o afastamento da presidente.

O PP, que desembarcou do governo e anunciou nesta semana que deixaria também todos os cargos que ocupa, escalou uma série de deputados da linha mais dura do partido para falar contra Dilma. O deputado gaúcho Jerônimo Goergen ironizou o discurso ético do governo. "Quem diria que aquele partido dono da ética, da moral e da esperança desse Brasil iria escrever uma triste página da nossa história política?", disse.

Apesar de ainda pertencer a base do governo, dos cinco deputados que falaram pelo PR, apenas um saiu em defesa do governo. Coube ao atual líder, Aelton Freitas (MG), defender o governo. "A rua cheia não é motivo para afastamento de chefe de governo", declarou.

Tamanho

A ordem dos discursos partidários obedece ao tamanho das bancadas. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), garantiu que não haveria intervalo e que a sessão de debates seguiria pelas madrugadas durante todo o fim de semana. Por isso, partidos como PSB, DEM e PRB, além de outras legendas que fortaleceriam o discurso a favor do governo, como PC do B e PDT, se manifestariam ao longo da noite. Com os atrasos, os chamados partidos nanicos estão previstos para falar apenas neste sábado.

Além do discurso partidário, outros 249 deputados se inscreveram para discursar de forma avulsa. A maioria, 179, falará contra o governo. As manifestações estão previstas para este sábado. Colaboraram Igor Gadelha e Daniel Carvalho.

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