Ruas divididas, com o tom contra a presidente Dilma Rousseff (PT) mais alto e agressivo nas classes média e alta, em contraposição ao apoio ao governo que ressoa dos movimentos sociais e movimentos de intelectuais, a contagem informal dos votos oscilou bruscamente durante a semana, ao sabor da repercussão da manifestação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomendando ao Supremo Tribunal Federal (STF) o veto à posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Secretaria-Geral da Casa Civil, além de novos vazamentos de delações premiadas da Operação Lava-Jato.
Generais, coronéis e soldados incansáveis na agonia da batalha de cada dia, em busca de votos. O foco principal são os parlamentares de pequenas legendas, de opinião volátil, que valorizam o próprio passe e negociam as condições de apoio com os dois lados. Nas barganhas que se encetam neste cabo de guerra que divide o país, promessas de empresários para apoio, ministérios, cargos nos futuros governos. Meia centena de parlamentares que decidirão a disputa têm num cálculo volátil a expectativa de quem vencerá o seu principal ingrediente. Governadores favoráveis e contrários ao afastamento de Dilma baixaram sobre as respectivas bancadas.
Da coordenação da Frente Parlamentar pró-impeachment, o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG) afia os argumentos para contestar a acusação de golpe: “O PT foi favorável ao impeachment de Collor, Sarney, Fernando Henrique Cardoso. Esse é um instrumento de controle do exercício da Presidência. O STF definiu o rito. Não há golpe. Há crime de natureza eleitoral e fraude fiscal”. De forma complementar, o tucano Domingos Sávio arremata o argumento: “Quem não aderir ao impeachment não vai capitalizar nada politicamente e terá dificuldade para participar da construção do novo governo”. Em contato pessoal permanente com Temer, os deputados federais peemedebistas Leonardo Quintão e Newton Cardoso Júnior integraram uma movimentação frenética no Palácio do Jaburu, residência do vice. “Não dá para sustentar um governo desses. O Temer cumpre tudo o que promete.
Em apoio ao governo, a deputada federal Jô Morais passou a semana divulgando manifestos de apoio a Dilma, como da União Brasileira de Mulheres, integrando eventos de solidariedade ao governo. “Um golpe de Eduardo Cunha, réu no STF, e do vice Michel Temer tenta destituir um governo eleito. Não passará”, argumentava. Da mesma forma, Reginaldo Lopes (PT), em corpo a corpo permanente, buscava segurar os indecisos da base governista da bancada mineira. “Não tem noite, não tem dia, vamos lutar por cada voto”, resume a semana.
TRÊS TELEFONES
Fiel ao governo, o novo líder do PR na Câmara, Aelton Freitas (MG), substituiu Maurício Quintella Lessa (AL), que formalizou dissidência na legenda. “Uma semana de muita pressão, muito assédio, prometem mundos e fundos, alguns não resistem”, assinala. Com a lista de apoios em sua bancada de 40 deputados e três telefones nas mãos, Freitas cumpria a missão de segurar votos contra o impeachment em sua bancada. E explicava: “José Alencar, quem me trouxe para a política, sempre insistiu: o mais importante é poder voltar. Lealdade em política é tudo.