Do lado pró-impeachment, a maior entidade que representa os ruralistas, a CNA, financiou a vinda de 500 ônibus, partindo de várias regiões do País. Os manifestantes começaram a chegar logo cedo nas proximidades da Esplanada e encontraram uma estrutura de recepção. Frutas, água e material de divulgação, nas cores verde amarelo.
O empenho para aumentar o movimento na rua se repetia no trio elétrico, montado pelo movimento Vem para a Rua. Entre as pessoas convidadas para animar a manifestação estava o presidente da entidade, João Martins da Silva Júnior.
Depois de um discurso curto, recheado de críticas à presidente, Martins Filho contou à reportagem as razões para tamanha ofensiva. O setor já estava descontente com o governo. Mas a gota d'água foi a reação da presidente ao discurso feito pelo secretário de Finanças e Administração da Contag, Aristides Santos, no início de abril, defendendo a invasão de propriedades.
"Essa mobilização fantástica foi organizada justamente depois desse episódio. Chegarmos aqui em Brasília com mais de 22 mil produtores."
Depois de Dilma e Lula, a ministra da Agricultura Kátia Abreu foi a mais criticada.
Mas nem todos que estavam na Esplanada no lado pró-impeachment demonstravam a convicção do presidente da CNA. A agricultora Laurete dos Santos, de 46 anos, veio de Campo Grande sábado, em um ônibus fretado por sua cooperativa para engrossar o movimento pró-impeachment na Esplanada dos Ministérios. Envergonhada, no entanto, fazia questão de deixar claro que não queria a saída da presidente Dilma Rousseff.
"Sou assentada. Recebi muito desse governo. Vamos trocar a presidente para colocar Michel Temer, que é farinha do mesmo saco, banana do mesmo cacho?" Quando questionada sobre as razões que a levaram a vir para a Esplanada, mesmo com tanta convicção na defesa da presidente, respondeu: "Por causa da cooperativa que quer tirá-la de qualquer forma."
Laurete já participou de outras manifestações. Mas nenhuma com tamanha infraestrutura e organização. Chapéu de aba larga, nas opções branca, verde ou amarela, uma tenda com água, fartura de frutas e um almoço que, em suas palavras, estava "muito bem feito". "Não houve correria. Todos comeram bem, com tudo do bom e melhor", completou, numa referência à tenda montada pela CNA para receber ônibus de todo o País.
Não foi à toa que ambulantes reclamavam da pouca movimentação. "Achei que venderia tudo rapidamente. Cheguei ao meio-dia e ainda tenho quase 20 quentinhas aqui esperando comprador", afirmou a vendedora Tainara Alves dos Santos.
"Muita gente chegou aqui já depois do almoço.
O vendedor de sorvetes Crispim Nunes, sem graça admitiu: "Pensava que aqui as coisas sairiam mais rápidas que do lado do MST. Estava enganado. As vendas aqui estão bem piores, por exemplo, do que na festa da posse."
O presidente executivo do Sindicato de Indústrias de Farmacêuticos do Estado de Goiás, Maçal Henrique Soares, reconheceu que o grande responsável por encher o lado pró-impeachment da Esplanada foi a CNA. A exemplo do presidente da entidade, ele considerou como divisor de águas o discurso feito pelo representante da Contag em cerimônia do Palácio do Planalto, em abril. "Não há dúvida de que a elite ficou contra a presidente", disse..