Destino do mandato de Dilma depende agora do Senado

Decisão final sobre impeachment está nas mãos de 81 senadores, que se articulam sobre rumos do processo na Casa. Para barrar Temer, PT cogita propor emenda à Constituição por eleições gerais

Isabella Souto
Antonio Anastasia (PSDB-MG) deve assumir a presidência ou a relatoria da comissão especial que deve analisar o processo de impeachment no Senado - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
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Agora é com o Senado. A partir desta terça-feira (19), o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) passa a ser analisado pelos 81 senadores brasileiros – dos quais 54 têm que aprová-lo para que ela deixe o cargo definitivamente. Para que o processo seja admitido na Casa, é bem mais fácil: basta a maioria simples de um quórum mínimo de 41 parlamentares. Ou seja, o voto de 21 senadores é suficiente para que a petista seja afastada temporariamente e responda pelo crime de responsabilidade ao adotar as chamadas pedaladas fiscais – caracterizadas pelo atraso no repasse a bancos públicos para o custeio de programas sociais.

A julgar pela orientação dos líderes partidários na Câmara dos Deputados, estão a favor do impeachment 11 das 17 legendas que têm representantes no Senado. Quatro estão contra o processo envolvendo a presidente e outras duas liberaram os votos de seus filiados. Na teoria, já haveria 56 votos a favor do impedimento da petista. Mas, na prática, no entanto, a história pode ser outra. Nada obriga o liderado a seguir a orientação recebida.
E alguns senadores ainda se dizem indecisos.

Entre os indecisos, os senadores Cristovam Buarque (PPS-DF) e João Capiberibe (PSB-AP), que ainda não sabem como votar, embora pertençam a partidos que já se declararam favoráveis ao impeachment. Dentro do PMDB, três deles também não definiram posição: Edison Lobão (MA), que foi ministro das Minas e Energia do governo Dilma, José Maranhão e Raimundo Lira, ambos da Paraíba. Mas dois já anunciaram o voto a favor de Dilma: Roberto Requião (PR) e João Alberto (MA).

Três dias antes da votação na Câmara, a bancada tucana do Senado já dava como certa a derrota da presidente Dilma Rousseff no plenário da Casa. Como têm a segunda bancada no Senado, os tucanos calculam que caberá a eles a indicação do relator ou presidente da comissão especial que será criada para analisar o processo e definiram o nome de Antonio Anastasia (MG) para assumir um dos cargos.

“A escolha foi feita com base em seu conhecimento jurídico, serenidade e aclamação ética. Foi consensual na bancada”, afirmou o líder do partido, Cássio Cunha Lima (PB). Nos bastidores, entretanto, o argumento é de que Anastasia tem boas relações com os diversos setores do Senado e uma posição menos combativa.

A sigla também já definiu os nomes que irão compor a comissão. Com três vagas no colegiado, além de Anastasia, também participarão o próprio Cunha Lima e o senador Aloysio Nunes (SP), trazendo uma fala mais radical.

Algumas dúvidas ainda cercam a formatação da comissão que analisará o processo de impeachment. Além de eleição, presidente e relator do grupo também poderiam ser eleitos ou escolhidos com base nas maiores bancadas da Casa. Neste caso, o PMDB teria a preferência para escolher pela presidência ou relatoria. Em seguida, as bancadas do PT e PSDB estão empatadas em número de membros (11), tendo o direito de assumir a outra vaga.A divergência maior é se o PT poderia assumir a relatoria ou a presidência da comissão, por ser o partido de Dilma e considerado parte interessada no processo. Apesar de a assessoria técnica do Senado não prever essa limitação, o argumento será usado pelos senadores de oposição na briga pelos postos-chave da comissão. Mas, partindo dessa premissa, o PMDB também poderia ficar de fora, já que é a legenda do vice-presidente da República, Michel Temer, sucessor direto da petista em caso de afastamento.



ELEIÇÕES GERAIS A briga em torno do impeachment, no entanto, tende a não se encerrar no Senado. Caso seja derrotado, o PT e o governo planejam uma campanha nacional para a apresentação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) prevendo a realização de eleições gerais.
A justificativa é que o vice Michel Temer não teria condições “morais e jurídicas” para comandar o país. “Eu vou defender isso dentro do PT e acredito que o PT vai defender também. Nós vamos conviver com um golpe? Não. Assim como não convivemos com a ditadura”, já afirmou o deputado Wadih Damous (PT-RJ), um dos principais articuladores do grupo contra o impeachment.

Na quarta-feira passada, durante encontro com alguns jornalistas em Brasília, a própria presidente Dilma admitiu a discussão de proposta semelhante. Na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a tocar no assunto durante reuniões com integrantes do PT e líderes partidários. A ideia tem o apoio, por exemplo, do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Há alguns dias, ele disse a colegas do Senado que não descarta a criação de uma comissão especial para reunir todas as propostas sobre o assunto.

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