A inércia do STF desde então possibilitou que Cunha permanecesse como principal condutor do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Entre dezembro e o dia 26 de fevereiro, foram realizados atos processuais como a intimação e apresentação da defesa de Cunha. Desde então, o processo está pronto para ser discutido. O caso foi encaminhado ao gabinete do ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato na Corte, que já informou a interlocutores que quer dividir a decisão com os outros dez ministros em plenário.
Nos bastidores, ministros do STF confidenciam que a Corte nunca teve o intuito de discutir a retirada de Cunha do poder no curso da discussão sobre o impedimento de Dilma. Eles alegam que o debate político já está acalorado e que o Judiciário não deve "incendiar" ainda mais o panorama nacional.
Após a votação do impeachment de Dilma na Câmara, o Supremo deve redefinir se enfrenta ou não o afastamento de Cunha. Os ministros consideram uma intervenção grave no Legislativo a retirada do presidente de uma Casa.
A avaliação no STF é de que caberia aos parlamentares tirar Cunha da cadeira, no entanto os integrantes da Corte admitem pouca esperança em uma solução interna no Legislativo.
Fragilidade
A assessores próximos, no entanto, a avaliação corrente em mais de um
gabinete no STF é a de que a peça apresentada por Janot é frágil. Apesar de verem obstáculos jurídicos para afastar Cunha, os ministros reconhecem que a imagem do STF ficaria arranhada perante a opinião pública no caso de uma decisão favorável ao peemedebista. Na visão de um integrante do tribunal, é mais interessante para a Corte manter a ameaça do afastamento sobre o presidente da Câmara do que correr o risco de derrubar o pedido de Janot em plenário.
O pedido de afastamento apresentado por Janot tem 183 páginas nas quais são listados os 11 pontos que a PGR vê como eventos que indicam prática de "crimes de natureza grave", com uso do cargo a favor do deputado, integração de organização criminosa e tentativa de obstrução de investigações criminais, fundamentados em material colhido no curso da Lava Jato, depoimentos de testemunhas e reportagens jornalísticas. Cunha é réu em ação penal que teve autorização por ser aberta pelo plenário do tribunal e alvo de mais dois inquéritos no Supremo. .