Convicto da vitória, Heráclito participou diretamente das negociações em nome do vice-presidente Michel Temer na Câmara e cravou os 367 votos a favor do impeachment. Ele disse que não quis participar do bolão organizado pelo presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), pois o momento pedia seriedade. No início da votação do domingo, já circulava entre os opositores 100 convites entregues pelo deputado para a comemoração.
Passaram pelo evento cerca de 50 pessoas, como o ex-ministro do governo Dilma, Mauro Lopes (PMDB-MG), o deputado Rubens Bueno (PR), líder do PPS, Fernando Coelho Filho (PE), líder do PSB, Efraim Filho (DEM-PB), Sarney Filho (PV-MA) e Carlos Bezerra (PMDB-MT). O deputado Carlos Marum (PMDB-MS) chegou às 2 da manhã, depois de um coquetel mais reservado na casa do vice-presidente Michel Temer, com 30 parlamentares.
Durante o bate-papo que foi até de madrugada na casa de Heráclito, a avaliação foi de que, caso Luiz Inácio Lula da Silva ainda estivesse na Presidência, não teriam conquistado votos importantes para aprovar o impeachment. Mesmo entre os petistas, eles consideram que a grande maioria é lulista e não apoia Dilma. Como aliado da presidente, citaram o vice-líder do governo, Silvio Costa (PTdoB-PE), que chorou com o resultado da votação.
Sobre as traições que pegaram o governo de surpresa, os deputados da ala oposicionista brincaram com o fato de que o governo ficou até o último instante tentando negociar cargos, mesmo com o "barco naufragando, com metade do casco debaixo d'água".
Apesar de não querer se pronunciar publicamente antes de uma definição do Congresso sobre o assunto para não irritar os senadores, Temer começa a definir nesta segunda-feira, 18, possíveis indicações para ministérios da sua "cota pessoal", que não entrarão na partilha dos partidos que o apoiaram. Entre as pastas, estão Fazenda, Justiça, Casa Civil, Defesa e Secretaria de governo.
A principal preocupação agora é de como Temer fará para sinalizar as mudanças aos empresários sem atropelar a decisão do Senado. Lá, aliados do vice-presidente avaliam que o cenário é muito diferente da Câmara e que a vitória não é garantida. Por isso, a estratégia é evitar pronunciamentos. "O áudio vazado já falou tudo o que precisava", comentou um parlamentar. Os peemedebistas reafirmaram que ainda há resistência do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-RJ), que pretende cumprir todo o rito. Eles calculam que a votação deve ocorrer em 17 de maio.
Após a guerra travada para conseguirem os votos necessários e dar sequência ao afastamento de Dilma, alguns dos principais articuladores de Temer na Câmara parecem não saber como agir nos próximos 30 dias. Eles temem que o vácuo no poder até a votação no Senado possa enfraquecer o vice-presidente.
No jantar de Heráclito, os deputados viam como solução a renúncia da presidente Dilma ou um acordo para um governo de transição. Chegaram à conclusão, no entanto, de que não há interlocutores no governo para este tipo de diálogo.
Em uma roda de conversas, alguns parlamentares também criticavam a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2015, que determinou que o Senado poderia derrubar uma eventual decisão da Câmara de abrir um processo contra Dilma.
Isso garantiu uma etapa a mais que pode dificultar o impedimento. Segundo eles, historicamente o Senado mede forças com a Câmara e poderia decidir contrariar os deputados..